Título: Embraer se diz ajustada para enfrentar crise
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Fonte: Valor Econômico, 05/03/2009, Empresas, p. B7
Com a demissão de 20% do efetivo, a Embraer foi ajustada para o que será o mercado de aviação internacional em 2009 e 2010, segundo o presidente da companhia, Frederico Curado. Não existe, diz ele, perspectiva de melhora antes de 2011. Por isso, a ideia é brigar para reverter a liminar que determinou a suspensão das demissões. "Não é justo sermos condenados a nos adaptar a uma situação incompatível com o nível de atividade da empresa, afirma.
Curado garante que a empresa tomou a decisão final de demitir no dia 10 de fevereiro (os cortes foram anunciados no dia 19). "Antes disso ficamos ruminando com a esperança de que, de posse de uma carteira de pedidos forte, poderíamos manter o ritmo da atividade", destaca. Mas, segundo diz, a súbita sucessão de pedidos de adiamentos de entregas de aeronaves na virada do ano provocou a opção pelos cortes que atingiram em torno de 4,2 mil empregados.
O presidente da Embraer não detalha o número de adiamentos. Mas lembra que todos remarcaram as entregas para daqui dois ou três anos. "Não estamos falando de 20 ou 30 dias, mas de 2012", destaca. Esses adiamentos se referem aos aviões comerciais. No caso da linha de aeronaves executivas, muitos clientes efetivamente cancelaram os pedidos.
É por conta das prorrogações e cancelamentos que Curado não vê alternativa a não ser cortar empregos. Segundo ele, a indústria de aviação não é igual a setores que recorrem a férias coletivas, licenças remuneradas ou redução de jornada com diminuição de salários. Todas essas alternativas vem sendo utilizadas em diversas empresas do setor industrial. Uma decisão desse tipo na Embraer, "teria uma base falsa", segundo Curado.
Ele argumenta que na indústria de aviões os ciclos são longos. A Embraer começou o ano com queda de 30% na atividade em relação ao que previa. A empresa se programou para a entrega de 270 aeronaves, mas constata que chegará a 242. Por isso, o plano de investimentos para o ano caiu de US$ 450 milhões para US$ 350 milhões.
Mas as demissões, que a direção da companhia dá como concluídas, continuam sendo questionadas por sindicalistas e pela Justiça. Hoje haverá audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas entre a empresa e o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP), município onde está a maior fábrica da Embraer. A suspensão das demissões até a audiência de hoje foi deferida em liminar no dia 27.
Ontem, uma caravana comandada pelo sindicato chegou a Brasília. Os diretores da entidade anunciaram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comprometeu a entrar em contato com o presidente da Embraer para pedir-lhe que negocie com o sindicato. Curado disse que até o fim da tarde de ontem não havia sido procurado por Lula. Mas o executivo mantém a posição de buscar valer na Justiça a decisão pelos cortes.
"Essa busca de culpados para as demissões não leva a lugar nenhum", diz. O executivo conta que alertou os funcionários a respeito do cenário difícil no mercado por meio de comunicado em novembro. "Eu disse no comunicado que a crise era real e que havia chegado até a Embraer", diz.
Mas os esforços que a companhia estaria fazendo naquele momento para evitar medidas drásticas, segundo Curado escreveu no comunicado, não surtiram efeito. Segundo ele, o cenário da época indicava que se necessárias, demissões só deveriam chegar no segundo semestre de 2009.
Os cortes de custos serão gerais, diz o executivo. Abrangerão desde despesas com viagens e com consultorias até investimentos em ativos fixos, como melhoria de hangares. "Vamos preservar o desenvolvimento de produtos", destaca. Segundo Curado, como ninguém sabe até onde vai a crise, o mercado terá de "ser monitorado diariamente". Para ele, mesmo que a economia mundial volte a se aquecer daqui a algum tempo demorará muito para que esse efeito positivo chegue até a indústria de aviação.
O presidente da Embraer não rejeita, porém, ajuda do BNDES para o financiamento das companhias aéreas que precisam comprar aviões. "É importante que o BNDES continua a nos ajudar a exportar porque o cenário de hoje é muito diferente de quando havia abundância de crédito no mercado", afirma.
Em relação ao governo, que já ajudou setores como a indústria automobilística, reduzindo o IPI dos veículos, Curado diz que o que ele espera é que a Força Aérea Brasileira continue comprando os aviões fabricados pela empresa. Ele cita o caso de duas aeronaves antigas da Boeing, da frota do governo, que acabaram de ser substituídas por modelos Embraer. "Além disso, não podemos imaginar que o governo possa suprir essa lacuna que a Embraer está vivendo", diz Curado.