Título: Coutinho vê espaço expressivo para BC reduzir juro
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2009, Brasil, p. A2

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, vê "um espaço expressivo" para que o Banco Central reduza a taxa básica de juros nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Associada à taxa de câmbio, que ao ser ver está em patamar competitivo para as exportações, a queda da Selic será, na sua opinião, importante fator de superação da atual crise mundial pelo Brasil, em condições muito melhores do que outros países.

"O mix de câmbio e juros será melhor do que o que tínhamos antes da crise", disse Coutinho, ontem, em Brasília, durante seminário promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES, orgão de aconselhamento da Presidência da República). Ele reconheceu que, embora tenha sido fruto da crise, a recuperação do preço do dólar, comparativamente aos níveis anteriores a setembro do ano passado, acabou corrigindo distorções que prejudicavam a competitividade das exportações do país.

A necessidade de uma redução mais agressiva dos juros, como parte da reação à crise, foi defendida também pela economista e ex-deputada federal petista Maria da Conceição Tavares, palestrante convidada que arrancou muitos aplausos da plateia. Dizendo que a resistência em afrouxar a política monetária é um problema ideológico histórico da autarquia, ela acusou o BC de atuar nesse ponto como "inimigo" dos interesses da nação. Por outro lado, reconheceu como correta a gestão das reservas cambiais, inclusive o uso desses recursos para suprir a escassez de crédito em moeda estrangeira ao sistema financeiro nacional.

Ela também criticou qualquer possível contração fiscal. Pensar em cortar gastos públicos , nesse momento, "é brincadeira", disse. Como exemplo de "amiga" da nação nesse momento de crise, a economista destacou a estatal Petrobras, que, mesmo com escassez de crédito privado vai manter seus planos de investimentos, com ajuda do BNDES. Coutinho assegurou que "o BNDES vai bancar a Petrobras em 2009 e, se preciso, também em 2010".

Para Conceição Tavares, o fato de existirem bancos estatais grandes e fortes e a decisão do governo de fazer uso deles para suprir a falta do crédito privado são fatores importantes no enfrentamento da crise. Ela e Coutinho acreditam que, graças a esses e outros fatores, o Brasil é um dos poucos países em condições que passar pela crise sem perda de Produto Interno Bruto. Para ambos, o país terá desaceleração do crescimento, mas não queda do seu PIB. O presidente do BNDES chamou atenção ainda para o fato de que, num cenário mundial, de retração de crédito e de investimentos, só China e Brasil continuaram atraindo capitais estrangeiros, após uma temporária interrupção de fluxos.

Coutinho avaliou ainda que os países desenvolvidos, hoje os mais afetados, deverão sair da crise mais endividados, por causa da magnitude do socorro financeiro que os bancos centrais e tesouros estão se vendo obrigados a prestar ao sistema financeiro. Em consequência disso, a moeda desses países tenderá a se desvalorizar frente às demais daqui em diante. "É provável que surja, nos próximos dois anos, dúvidas sobre o dólar como padrão de moeda internacional e de referência", previu.