Título: BC comprou US$ 10,6 bi em fevereiro
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2005, Finanças, p. C1

O Banco Central fez intervenções ainda mais pesadas no mercado de câmbio em fevereiro. Somadas as suas atuações no mercado de dólar à vista e no futuro, os valores absorvidos chegam a US$ 10,609 bilhões. A política cambial ativa da autoridade monetária ajudou a evitar uma maior apreciação do real no mês, embora seu discurso oficial seja de que sua intenção foi apenas fortalecer as reservas internacionais e reduzir o percentual da dívida pública vinculada ao dólar. Pelos dados do movimento de câmbio contratado e da posição em moeda estrangeira dos bancos, estima-se que em fevereiro o BC comprou US$ 4,639 bilhões no mercado à vista de dólar. É uma política de aquisição de divisas bem mais agressiva do que a de janeiro e dezembro passados, quando a autoridade monetária comprou, respectivamente, US$ 2,566 bilhões e US$ 2,647 bilhões. A soma dos valores adquiridos desde que o BC voltou a intervir no câmbio, em dezembro, chega a US$ 9,852 bilhões. A outra frente de atuação do BC foi no mercado futuro de dólares, em que a autoridade monetária negocia contratos "swap" de câmbio reverso. Por esse instrumento financeiro, que começou a ser usado em fevereiro, o BC assume uma posição ativa em dólar (isto é, recebe dos investidores a variação do câmbio) e fica com uma posição passiva em juros (paga a taxa Selic). Em fevereiro, apenas, o BC comprou um total de US$ 5,284 bilhões em operações de "swap". Ontem, foram negociados novos lotes de contratos, com um valor financeiro de US$ 1,96 bilhão. A atuação do BC no mercado de câmbio em fevereiro se fecha com a decisão de não renovar um total de US$ 681 milhões em "swaps" cambiais tradicionais - nos quais a autoridade monetária mantinha uma posição passiva em moeda estrangeira. Essa política de pesadas intervenções no mercado de câmbio teve dois efeitos: aumento das reservas internacionais e queda da parcela da dívida interna atrelada à variação do câmbio. Também evitou uma maior desvalorização do dólar - a cotação da moeda caiu 0,77% no mês. Em fevereiro, as reservas brutas fecharam em US$ 59,017 bilhões, ante US$ 54,022 bilhões em janeiro. Anteontem, as reservas cresceram mais US$ 1,138 bilhão, atingindo US$ 60,155 bilhões, em virtude sobretudo dos contratos de compra de dólar fechados no penúltimo dia útil de fevereiro, que são liquidados com dois dias de defasagem. É o volume mais alto de reservas brutas desde agosto de 1998, quando estavam em US$ 67,333 bilhões e sofreram pesada baixa devido à moratória russa. Pelo conceito de reservas líquidas, que exclui empréstimos do FMI e parte dos títulos de emissão brasileira, as reservas teriam chegado a US$ 33 bilhões. Nesse valor não está incluída a mais recente captação soberana, de US$ 1 bilhão, que será liquidada apenas na semana que vem. O outro efeito da política cambial do BC é a redução da dívida interna vinculada ao dólar, que em janeiro passado era de US$ 21,293 bilhões. Somadas as operações de "swap" reverso e a não-renovação de "swaps" tradicionais fechadas até ontem, o débito foi reduzido em US$ 7,930 bilhões - para US$ 13,363 bilhões. No ritmo atual, esse resíduo será eliminado em dois meses. Em fevereiro, o superávit no câmbio foi de US$ 3,943 bilhões, o maior desde julho de 1998 (US$ 4,829 bilhões). A diferença é que, agora, o superávit se apóia no cambio contratado do comércio exterior (superávit de US$ 3,519 bilhões), enquanto em 1998 o saldo se devia à entrada de capitais.