Título: Teles resistem à crise
Autor: Moreira , Talita
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2009, EU & Investimentos, p. C

A sucessão de notícias ruins no ambiente econômico deixou os consumidores com um pé atrás, mas ainda não fez o brasileiro desligar o telefone nem sair da frente da internet.

As operadoras de telefonia fixa e móvel venderam e lucraram mais no quarto trimestre de 2008, quando a palavra crise já era tema corriqueiro em quase todas as rodinhas de amigos, corridas de táxi e mesas de bar.

As companhias do setor listadas na Bovespa elevaram a receita líquida em 9,7%, na comparação com o quarto trimestre de 2007, e conseguiram traduzir esse aumento em mais dinheiro no bolso. Levantamento do Valor Data com resultados de oito empresas mostra que, juntas, elas alcançaram lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações (lajida) de R$ 7,5 bilhões. O número é 12,5% superior à cifra de igual período do ano anterior. Também é maior que o valor do terceiro trimestre de 2008 - intervalo que, no calendário do setor, costuma ser mais rentável porque as teles gastam menos dinheiro com promoções.

A margem operacional para o conjunto das teles ficou em 31,8% da receita líquida combinada, contra 31% no quarto trimestre do exercício anterior. Mas nem todas as empresas acompanharam esse movimento. A Oi, que divulgou ontem o resultado, teve queda no lucro operacional. A companhia atribuiu a redução a itens não recorrentes - despesas para a compra da Brasil Telecom, concluída em janeiro, e para a entrada no mercado paulista de celulares.

"De forma geral, os resultados das operadoras foram muito bons, principalmente quando comparados aos de outros setores", observa o analista Alex Pardellas, do Banif. Ele ressalta que o consumo de telefonia não é dependente da oferta de crédito e as tarifas de alguns serviços são reguladas, fatores que ajudam a sustentar as companhias em momentos desfavoráveis.

Quando a crise estourou, os principais executivos das teles se empenharam em convencer o mercado de que o setor não seria dos mais atingidos pela turbulência. O argumento era que as pessoas cortariam outros gastos antes de cancelar as assinaturas de telefone ou banda larga. Ao menos por enquanto, isso tem se confirmado.

Mesmo assim, o setor amargou queda de 35,7% no lucro líquido combinado, que ficou em R$ 1,4 bilhão. Pesou a alta do dólar sobre dívidas não cobertas por mecanismos de proteção. O caso mais emblemático foi o da Oi, que viu o lucro cair de R$ 881,7 milhões para R$ 77,5 milhões no trimestre. Mas Brasil Telecom e GVT também tiveram lucro menor com o câmbio.

"Continuamos achando muito caro fazer "hedge", mas estamos olhando oportunidades para reduzir as dívidas em dólar", afirmou o presidente da GVT, Amos Genish, em entrevista concedida ao Valor quando o balanço foi divulgado.

Uma evidência de que, no lado operacional, as coisas vão bem são os indicadores de inadimplência. As provisões para devedores duvidosos mantiveram-se relativamente sob controle - subiram em algumas operadoras, como a TIM, e caíram em outras, caso da Telefônica. Também não houve saltos nas taxas de cancelamento dos serviços, e o ritmo de vendas de novas assinaturas - especialmente de celulares e banda larga - continuou forte para a maioria das operadoras. "Com ou sem crise, as pessoas vão continuar usando o telefone e a internet", disse o presidente da Net, José Antonio Felix.

No ano passado, nada menos que 30 milhões de celular foram habilitadas no país, um terço disso entre outubro e dezembro.

As vendas de banda larga ficaram estáveis, se analisados os números das operadoras fixas e de TV por assinatura, que adicionaram 455 mil clientes nos três últimos meses do ano. Mas o número total é maior porque o setor ganhou novos competidores em 2008. As companhias de celular, que lançaram redes de terceira geração (3G), passaram a investir na venda de modens para o acesso à web. Por enquanto, não há dados sobre o volume comercializado por elas.