Título: Fundo alerta para redução permanente de capital
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Fonte: Valor Econômico, 09/03/2009, Finanças, p. C3

A crise financeira provocou desde setembro uma retirada brutal de capitais externos das economias emergentes, que inclui o Brasil. Agora, os emergentes devem se preparar para outra etapa do problema: a saída de parte desse capital pode ser permanente, diante da desalavancagem global e da consolidação do setor financeiro.

O alerta é de um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI). A falta de crédito para os emergentes foi discutida ontem pelos principais bancos centrais, em reunião no Banco de Compensações Internacionais (BIS). Os técnicos constataram que o corte de financiamento ao comércio caiu mais de 50%, e o crédito bancário também foi nessa ordem.

A "desalavancagem desordenada" deflagrada pela crise financeira provocou uma enorme reversão no fluxo de capitais para os emergentes, com as empresas sendo particularmente afetadas. Nesse cenário, o FMI considera mais incerta a possibilidade de as economias emergentes concretizarem emissões históricas e rolagem de títulos de dívida próxima de US$ 1,1 trilhão no mercado internacional entre 2009-2012.

"Há sérias preocupações sobre a capacidade dos sistemas financeiros nessas economias lutar contra esses choques"´, diz o FMI no estudo destinado aos presidentes de BCs e ministros de finanças do G-20, que se reunirão no sábado nos arredores de Londres.

A entidade sugere que alguns países precisarão aumentar a flexibilidade no seu regime cambial. Diz que a acumulação de amplos estoques de reservas internacionais por vários países nos últimos anos, como foi o caso do Brasil, dão espaço para intervenções a fim de "evitar condições desordenadas nos mercados", mas que eles deveriam não resistir a persistentes pressões sobre a taxa cambial.

O problema de alavancagem no sistema financeiro está na ordem do dia nas discussões de bancos centrais. Pela alavancagem, o investidor obtêm recursos para negociar ativos por valor maior do que seu patrimônio permite. A desalavancagem é o contrário, levando o investidor a se desfazer de financiamentos e outros ativos para reduzir o endividamento.

Para este ano, o Instituto de Finanças Internacionais (IFI), que reúne os maiores bancos privados, estima que US$ 20 bilhões de títulos dos emergentes vencem por mês no primeiro semestre - e somente metade teria alguma segurança de rolagem.

Há casos de fortes pressões sobre os grandes bancos internacionais, para se concentrarem em emprestar em seus mercados domésticos. Isso torna mais difícil para a matriz transferir fundos para as subsidiárias e estender créditos no exterior. Os grandes bancos internacionais estão reduzindo sua exposição de US$ 4,5 trilhões nos emergentes.

As projeções sobre o fluxo de capitais privados para as economias emergentes continuam sendo revisadas. Inicialmente, estimava-se fluxo de US$ 165 bilhões, em comparação aos mais de US$ 900 bilhões de 2007. Agora, bancos trabalham com estimativa de US$ 145 bilhões. Pela primeira vez nos últimos tempos, os empréstimos dos bancos internacionais para emergentes serão negativos: os bancos receberão US$ 65 bilhões a mais do que vão emprestar.

A situação é mais grave na na Europa do Leste, onde os bancos têm US$ 1,7 trilhão de créditos, três vezes mais que em 2005. Com esses países entrando em longa e profunda recessão e os bancos necessitando de dinheiro para evitar o desastre total, a consequência é a imposição do protecionismo financeiro. (AM)