Título: Japão avança em fusão de bancos
Autor: The Economist
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2005, Finanças, p. C8

Desde que anunciaram seu plano de fusão, em julho, os acionistas do segundo maior banco do Japão, o Mitsubishi Tokyo Financial Group (MTFG), e do quarto maior, o UFJ, vinham fazendo aos executivos das duas instituições uma única pergunta: qual é o preço? Em 18 de fevereiro, os investidores finalmente tiveram uma resposta, assim como algumas respostas a outras dúvidas pertinentes sobre os benefícios da fusão. Se ela seguir em frente conforme planejado em 1º de outubro, vai criar uma instituição com 188 trilhões de ienes (US$ 1,8 trilhão) em ativos, mais do que qualquer outro banco no mundo. O preço parece ser alto o suficiente para garantir o prosseguimento do negócio. A lucratividade combinada dos dois bancos, porém, parece que vai desapontar. Sob os termos do negócio, cada lote de 100 ações do UFJ vai valer 62 ações do MTFG. Isso coloca um valor de cerca de 3 trilhões de ienes no sócio menor, ligeiramente mais que o esperado pelos investidores, e deverá acabar com qualquer possibilidade de o Sumitomo Mitsui Financial Group (SMFG), que fez uma proposta concorrente pelo UFJ no quarto trimestre de 2004, vir a bloquear o negócio. Os administradores do UFJ, que assinaram acordo com o MTFG antes de estabelecerem um preço, vêm repelindo os avanços do SMFG, com a ajuda dos tribunais de justiça. Embora o SMFG ainda não tenha retirado formalmente sua proposta, que é mais generosa, ele poderá agora voltar suas atenções para uma grande fusão diferente. Ele vem negociando com a Daiwa Securities, a segunda maior corretora de valores do Japão. O UFJ precisava fazer um negócio com alguém. Ele estava muito atrás dos outros três grandes bancos japoneses (MTFG, SMFG e Mizuho, atualmente o maior do país) na limpeza dos créditos podres, que representavam mais de 9% dos empréstimos totais no fim de setembro. Um ano atrás, autoridades reguladoras expuseram uma tentativa descarada do staff do UFJ de enganá-las sobre a saúde dos tomadores de empréstimos do banco. A única maneira que o UFJ tinha de cumprir legitimamente as metas de empréstimos ruins estabelecidas era juntar-se a um parceiro mais forte. Em setembro, o MTFG injetou 700 bilhões de ienes no UFJ em antecipação ao takeover, ajudando o UFJ a dar baixa em parte dos créditos podres. Até onde a coisa envolve os administradores do UFJ, um negócio com o MTFG tem mais uma coisa que precisa ser dita: nada de muitas demissões. O UFJ e o SMFG são ativos nas áreas de banco de varejo e empréstimos a pequenas empresas, e possuem redes de agências fortes nos arredores de Osaka e Nagoya. Ao unir forças com o MTFG, cuja sede fica em Tóquio e cujos negócios são mais voltados para os clientes corporativos, os chefões do UFJ escolheram um parceiro com poucas sobreposições. Em seus planos mais recentes, o MTFG e o UFJ prometem as mesmas economias. Após a fusão eles vão eliminar 6.000 empregos de suas forças de trabalho combinadas de 78.000 funcionários, e fecharão 300 agências de varejo e corporativas (incluindo 30 fora do Japão), de um total de pouco mais de 1.400. Essas e outras mudanças, afirmam os bancos, vão custar 240 bilhões de ienes por ano num período de quatro anos. Mesmo assim, Takeo Hoshi, economistas da Universidade da Califórnia em San Diego, e Anil Kashyap, da escola de administração da Universidade de Chicago, têm se voltado para demissões anteriores realizadas pelo UFJ, depois que ele foi criado através de uma fusão de três bancos em 2001. Eles constataram que ele fez apenas reduções cosméticas. O banco eliminou 3.600 empregos "full time" em suas principais unidades bancárias, mas criou o mesmo número de empregos em suas subsidiárias. O número de funcionários que trabalham meio período na holding da instituição também aumentou. Enquanto isso, os diretores do MTFG e UFJ avaliam que seus negócios principais e complementares lhes permitirão aumentar as receitas em casa e fora. Eles afirmam que conseguirão lucro líquido de 1,1 trilhão de ienes no exercício que se encerra em março de 2009, com uma rentabilidade patrimonial de 17%, praticamente o dobro do número atual. Ao emitirem mais cartões de crédito e outros empréstimos ao consumidor, venderem bastante fundos de investimento e anuidades, e ganhar mais dinheiro com as taxas de juros mais altas, na medida que a economia japonesa melhora, eles esperam triplicar seus lucros operacionais na área de banco de varejo, cuja participação no lucro total deverá subir de 15% para 35%. Os bancos ainda esperam ganhar metade de seus lucros operacionais com os empréstimos corporativos. Suas previsões também se mostram otimistas. Eles prevêem um aumento de 40% nos empréstimos para pequenas e médias empresas, por exemplo, com a recuperação da demanda por crédito. Mas ainda não há sinais de uma recuperação: os empréstimos continuam encolhendo no Japão, embora com menor rapidez do que antes. Três quintos de todos os empréstimos ganham menos de 2% com juros, e essa parcela está aumentando. "Eles ainda continuam tentando fazer dinheiro com as operações básicas de tomada e empréstimo de dinheiro e os spreads sobre os empréstimos são microscópicos", diz Kashyap. "É altamente improvável que essa fórmula os coloquem mais perto da meta de rentabilidade patrimonial." Os bancos japoneses estão mais estáveis hoje em dia, mas ainda estão muito distantes de fazerem dinheiro em grandes volumes.