Título: Contra a crise, Taiwan mira emergentes
Autor: Landim , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2009, Brasil, p. A5

O lobby de um importante hotel na Avenida Faria Lima, um dos principais centros comerciais de São Paulo, parecia um formigueiro ontem pela manhã. Representantes de 70 empresas taiwanesas circulavam, em um evento organizado por seu governo, ávidos para encontrar compradores brasileiros. No portfólio estavam desde as conhecidas peças para computador, já que Taiwan abastece 90% do consumo do planeta, até autopeças, ferramentas, chapas de PVC, tesouras ou mamadeiras.

A movimentação é um pequeno exemplo do esforço de Taiwan - país que briga com a China pela independência - para diversificar os mercados e combater os efeitos da crise. A ordem é conquistar os mercados emergentes com disciplina e organização, uma atitude que assusta os empresários brasileiros.

"Com a crise, os mercados estão diminuindo. Os europeus, por exemplo, enfrentam uma forte recessão, mas o Brasil ainda deve crescer 1,8%. A economia brasileira depende do mercado interno, portanto, tem espaço para comprar produtos de Taiwan", disse o vice-ministro de Economia do país, Sheng-Chung Lin.

Líder da delegação, Sheng-Chung explicou ao Valor que o objetivo do seu país é diversificar os mercados com foco nos emergentes e citou especificamente o Brasil e seus vizinhos, Rússia, Índia, Oriente Médio e a própria China. Ele disse que, além de retraídos pela crise, os mercados americano e europeu são maduros, logo a chance de Taiwan ampliar as exportações está nos emergentes. A América do Sul representa apenas 1,9% das exportações de Taiwan, diante de 12,2% dos Estados Unidos e 11% da União Europeia.

A diversificação dos mercados se tornou uma questão de sobrevivência para Taiwan, que foi duramente atingida pela crise. Depois de crescer 5,7% em 2007, o Produto Interno Bruto (PIB) do país avançou apenas 0,2% em 2008 e deve recuar 2,9% este ano, conforme o governo local. Segundo Sheng-Chung, é uma consequência de uma retração esperada de 20% na corrente de comércio, que chega a US$ 500 bilhões e que representa 2/3 da economia. Ele conta que o país vai gastar US$ 18 bilhões nos próximos quatro anos em despesas e investimentos para aquecer o mercado interno, o que deve resultar em 0,7% de crescimento do PIB e demonstra como é fundamental recuperar as exportações.

Daí a necessidade de ações como o "Taiwan Expo Tour pela América do Sul", que começou em São Paulo e ainda deve passar por Santiago, Lima e Bogotá. Se antes da crise não conseguiam atender a demanda, os empresários taiwaneses vieram em peso ao outro lado do planeta, para estabelecer conexão direta com os compradores brasileiros. Taiwan possui grandes empresas como Asus, D-Link ou Genius, que abastecem de partes e peças as multinacionais, mas são desconhecidas do público.

O comércio com Taiwan é deficitário para o Brasil, que vende commodities e importa partes e peças de produtos eletrônicos. Em 2008, as exportações brasileiras para o país cresceram 80%, para US$ 1,5 bilhão, e as importações avançaram 55%, para US$ 3,5 bilhão. O déficit subiu de US$ 1,5 bilhão em 2007 para US$ 2,1 bilhão em 2008, conforme a Secretaria de Comércio Exterior. Em janeiro deste ano, os efeitos da crise também chegaram ao Brasil e as importações de produtos taiwaneses caíram 45%.

Em 2008, Taiwan investiu US$ 19,2 milhões no Brasil, um volume insignificante perto dos US$ 44,6 bilhões que o país atraiu. Segundo o vice-ministro, uma boa relação entre os dois governos é fundamental para fomentar investimentos. Sheng-Chung reclamou indiretamente do fato de que o Brasil não reconhecer a independência de Taiwan, o que dificulta acordos de bitributação e investimentos e até a obtenção de vistos. Até sexta-feira, ele não havia conseguido o visto para entrar no Brasil, entrave que quase impossibilitou a visita.