Título: Via Campesina ocupa Ministério da Agricultura
Autor: Zanatta , Mauro
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2009, Política, p. A9

De lenço roxo no rosto e um escudo improvisado em punho, a sem-terra mato-grossense Rosana Fernandes, 37 anos, ajudou outras 400 mulheres a ocupar ontem a entrada principal da sede do Ministério da Agricultura. Por quatro horas, as militantes da Via Campesina, um consórcio internacional de movimentos sociais, gritaram palavras de ordem em alegada "luta contra o agronegócio e pela reforma agrária", almoçaram e ameaçaram subir até o gabinete do ministro Reinhold Stephanes para entregar uma carta-protesto contra o financiamento público das "transnacionais" do setor. Em nota, ele reagiu: "As reivindicações colocadas hoje estão fora de foco. O pequeno produtor participa do agronegócio, assim como o médio e o grande." Sérgio Lima/Folha Imagem Mulheres protestam contra financiamento público à empresas do setor

Na ação-relâmpago, iniciada às 7h30, as vidraças de duas portas foram quebradas e um segurança do prédio ficou levemente ferido ao tentar conter a invasão. Muitas ativistas levaram os filhos para a ocupação do ministério, que contou com apoio logístico de dois carros e oito ônibus, além da distribuição de marmitas e água mineral. Stephanes não estava em seu gabinete na manhã de ontem e não viu os protestos organizados pela Via Campesina embaixo de sua janela. Três viaturas da Polícia Militar e quatro motociclistas da corporação acompanharam a manifestação sem intervir. Dois agentes e uma delegada da Política Federal estiveram no local.

Há 13 anos no Movimento dos Sem-Terra (MST), Rosana Fernandes ajudou a coordenar a Jornada das Mulheres Camponesas, planejada desde março do ano passado para "dar o recado" contra o uso de recursos públicos para financiar as atividades de empresas do agronegócio. "Na lógica do governo, teria que reclamara no MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário). Mas queremos denunciar o uso desses recursos para essas empresas através do Ministério da Agricultura", afirmou.

A coordenadora da ocupação lembrou que o protesto também refletia um repúdio ao fechamento de escolas nos acampamentos do MST no Rio Grande do Sul. Segundo ela, foram fechadas três das oito escolas comunitárias no Estado, onde seriam atendidas três mil crianças. "É coisa da burguesia latifundiária com o governo do Estado", disse.

A mulheres da Via Campesina devem participar hoje de uma audiência no Senado sobre a reforma do Código Florestal, criado em 1965. O Congresso avalia a reformulação da lei para permitir o plantio de espécies exóticas na Amazônia, com o eucalipto. "Eles causam um forte desequilíbrio ambiental. São insustentáveis", repetiu Rosana Fernandes, que entregava panfletos do protesto aos servidores do ministério.