Título: Construção civil ganha fôlego com o crescimento
Autor: Felipe Frisch
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2005, EU &, p. D2
Os analistas do setor de construção civil estão otimistas nesse ano com as ações das empresas do segmento, especialmente após a divulgação de resultados das duas principais companhias: Duratex - fabricante de chapas de madeiras, louças e metais controlada pelo grupo Itaú - e Eternit, especializada em telhas e caixas d'água de amianto. As recomendações predominantes são de compra tanto para os papéis preferenciais (sem direito a voto) da Duratex, quanto para as ordinárias (com voto) da Eternit. Um dado que os analistas destacam é a retomada do setor. Estima-se que a construção civil tenha registrado crescimento de 6,8% em 2004 frente aos 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. O analista Eduardo Kondo, da Concórdia, vê no consumo de cimento - especialmente pelo pequeno consumidor, que aquece o setor fazendo reformas e construções pequenas - um importante indicador, mesmo para as empresas indiretamente ligadas ao setor. "O consumo de cimento subiu depois do Plano Real, com o aumento da renda até 1999, passando de 25 para 40 milhões de toneladas por ano", lembra "Mas depois disso, só caiu, indo para 34 milhões em 2003." Para ele, os balanços das empresas podem estar mostrando um retorno a níveis melhores. A Duratex, por exemplo, registrou lucro líquido de R$ 125,29 milhões - 95,72% superior ao de 2003. Além disso, no caso da Duratex, explica Kondo, a empresa foi beneficiada pelo fim do programa de investimentos de quase R$ 890 milhões nos últimos cinco anos para as fábricas da linha Deca. A conclusão desta fase coincidiu com a melhora do mercado interno. O segmento de louças e metais, mais voltado para o mercado externo, respondeu por 20% do lucro operacional da companhia, lembra o analista. Na semana passada, o BNDES aprovou um programa de financiamento de R$ 53 milhões para reflorestamento de 21,5 mil hectares da subsidiária da Duratex, Duraflora, no interior de São Paulo. Na segunda-feira, o Conselho de Administração da companhia decidiu pagar juros sobre capital próprio de R$ 2,353 por lote de mil ações em 8 de março. Com a cotação de R$ 120,00 do fechamento de ontem, corresponderia a quase 2%. Mas é preciso levar em conta que há imposto de renda sobre esse valor. O resultado da Eternit em 2004, divulgado ontem, também animou os analistas. A companhia teve lucro líquido de R$ 33,315 milhões no ano passado, um crescimento de 18,74% em relação a 2003. Durante a apresentação do balanço, a empresa destacou a recuperação do setor de construção civil após três anos consecutivos de perdas. Em 2004, foram distribuídos R$ 30 milhões em dividendos da empresa, o que representou um "dividend yield" - relação entre dividendo e cotação do papel - de 12,4%. "O resultado da Eternit foi muito bom, eles estão com uma equipe muito boa de mercado, marcando reuniões e melhorando o nível de transparência da companhia", diz Rodrigo Bonsaver, da corretora Planner. A expectativa de crescimento da Eternit para esse ano tem como base os R$ 11,2 bilhões em recursos do FGTS que deverão ser aplicados em obras de habitação, saneamento e infra-estrutura.