Título: China corta tarifas e barateia exportação
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Fonte: Valor Econômico, 10/03/2009, Internacional, p. A10

A China reduzirá a zero suas tarifas sobre exportações e dará maior apoio financeiro a exportadores, para tentar ampliar sua participação no comércio mundial durante a atual crise, disse ontem o ministro do Comércio do país.

A China "recorrerá a todas as medidas possíveis para assegurar o crescimento estável de nossas exportações e evitar uma grande queda na demanda externa", disse Chen Deming em uma entrevista publicada por um importante jornal do Partido Comunista.

"Precisamos incrementar nossa participação no mercado mundial. Precisamos nos transformar de grande país exportador em país exportador forte".

O colapso do comércio mundial nos últimos meses resultou em queda de 17,5% nas exportações chinesas em janeiro, e matérias na mídia chinesa indicam que o declínio foi ainda maior em fevereiro.

O Partido Comunista, no poder, quer reduzir a dependência da economia em relação à demanda externa por exportações chinesas baratas, mas tal reequilíbrio levará anos.

Até lá, a obsessão do partido com a restauração das elevadas taxas de crescimento, que o permitiram manter-se no poder, deixa-o com pouca alternativa a revitalizar o setor exportador.

"O comércio e a demanda mundial estão em colapso, e o mesmo está acontecendo com as moedas de muitos concorrentes e consumidores da China", disse Isaac Meng, economista do BNP Paribas. "Isso está exercendo enormes pressões sobre os setores exportadores chineses e o sobre o governo no sentido de apertar todos os botões para acelerar a economia."

Em uma entrevista na sexta-feira passada, Zhou Xiaochuan, presidente do Banco Central, recusou-se a descartar uma desvalorização do yuan, a moeda chinesa.

"Se vocês fossem capazes de nos dizer claramente o que vai acontecer [nos países onde começou a crise financeira], seria mais fácil para nós dizer-lhes quais medidas tomaremos", disse Zhou quando indagado se descartaria uma desvalorização do yuan.

Na entrevista publicada ontem, Chen disse que o governo reduzirá gradualmente até zero as tarifas sobre exportações, ao mesmo tempo em que cumprirá as regras do comércio internacional e restringirá os setores extremamente poluentes, de uso intensivo de energia ou esbanjadores de recursos naturais.

Ele também disse que Pequim deverá expandir seu apoio financeiro direto ao desenvolvimento do comércio exterior e estimulará a exportação de produtos importantes, entre eles os de setores de alta tecnologia ou agrícolas, e quaisquer outros caracterizados pela exploração de ativos intelectuais e de marcas chinesas proprietárias.

Qualquer iniciativa comandada pelo governo buscando revitalizar o setor exportador exigirá um cuidadoso ato de malabarismo, para que Pequim evite intensificar iniciativas protecionistas de seus parceiros comerciais.

Pequim prevê um crescimento da economia de 6,5% no primeiro trimestre. O superávit comercial do país pode saltar 93,2%, para US$ 80 bilhões, já que as importações chinesas se reduzem mais rápido que as exportações.

O vice-presidente do BC, Yi Gang, disse, na Suíça, que não vê necessidade de mais estímulos para a China neste momento.

(Com o Financial Times)