Título: Resultado eleva risco de recessão em 2009
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/03/2009, Brasil, p. A4
Com o péssimo resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre de 2008, aumentou a possibilidade de que a economia tenha retração neste ano. Mesmo os analistas que ainda não mudaram suas projeções consideram que o risco de um PIB negativo cresceu bastante. A perspectiva para o primeiro trimestre deste ano também não é animadora - vários economistas acreditam que haverá queda em relação ao trimestre anterior, na série com ajuste sazonal. Com isso, o PIB cairia por dois trimestres seguidos, configurando uma "recessão técnica". O BNP Paribas e o Barclays Capital projetam recuo de 1,5% em 2009. Na ponta mais otimista, a LCA Consultores aposta em alta de 1,5% a 2%.
Relatório da A. C. Pastore & Associados, consultoria do ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, diz que, com os dados do PIB do quarto trimestre, os números da produção industrial de janeiro e as primeiras indicações sobre a indústria em fevereiro, "pioraram as perspectivas de crescimento em 2009, crescendo a probabilidade de taxas próximas de zero ou mesmo negativas". A consultoria vê um cenário ruim para o investimento, e aponta várias fontes de desestímulo às inversões: "as perspectivas de um crescimento medíocre ou de uma recessão", a escassez de financiamentos estrangeiros de longo prazo e a contração do crédito doméstico, das exportações e do consumo das famílias.
Por fim, Pastore diz que não há expectativa de que a absorção doméstica (o consumo das famílias, o consumo do governo e os investimentos) "possa voltar a crescer, levando a uma recuperação do crescimento do PIB". Segundo ele, "são os ingressos de capitais que em última instância determinam o déficit possível nas contas correntes e, no quadro atual da economia internacional, não há perspectiva de que esses ingressos possam ter um incremento significativo."
O economista-chefe do Morgan Stanley, Marcelo Carvalho, é outro que vê maiores possibilidades de um PIB negativo neste ano. "Em dezembro, quando passamos a prever crescimento zero em 2009, a nossa previsão parecia pessimista; hoje, ela se tornou otimista", diz Carvalho. Ele lembra que o tombo do PIB no quarto trimestre de 2008 piorou a herança estatística (o "carry over") de 2008 para 2009, que ficou negativa em 1,5%. Isso significa que, se a economia não crescer nada em relação ao nível do fim de 2008, haverá uma contração do PIB de 1,5%. A herança estatística de 2007 para 2008 foi positiva em 2,2%. Carvalho calcula que, para haver crescimento de 1% neste ano, o PIB terá que avançar a uma média de 1% a cada trimestre em relação ao trimestre anterior, feito ajuste sazonal.
Dado o fraco resultado da produção industrial em janeiro, Carvalho acredita em queda do PIB no primeiro trimestre deste ano em relação ao anterior. Para ele, o cenário externo, a deterioração do mercado de trabalho e o quadro ruim para o crédito são os três grandes obstáculos em 2009.
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, também acredita que o primeiro trimestre será ruim. "Nós esperamos queda de 2,4% em relação ao mesmo trimestre de 2008 e um recuo de 1,3% em relação ao anterior, com ajuste sazonal. Se no quarto trimestre a indústria carregou o maior fardo da desaceleração, no primeiro trimestre esse efeito vai se generalizar", diz Vale, que espera expansão de 0,5% do PIB em 2009- antes, apostava em alta de 1,2%.
A economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, manteve a previsão de 0,8% de crescimento em 2009, mas também considera que não é impossível um PIB negativo. Ela projeta queda de 3,5% nos investimentos e de 0,3% no consumo das famílias, enquanto o consumo do governo deve aumentar 3%. Para ela, embora ainda haja muita incerteza, é possível que o PIB do primeiro trimestre possa mostrar um desempenho levemente positivo em relação ao trimestre anterior, "se o método de dessazonalização for o mesmo aplicado no quatro trimestre do ano".
A LCA estima que, no primeiro trimestre, o PIB pode crescer de 0,5% a 1% em relação ao anterior. Para 2009, o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, projeta alta de 1,5% a 2%. Ele observa que a indústria ainda passa por um ajuste de estoques, acreditando que a recuperação só deve começar no segundo trimestre.
O estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, espera um cenário externo bastante ruim e por isso projeta queda de 1,5% no PIB de 2009. O BNP Paribas deve revisar a projeção para a economia global de menos 0,5% para menos 1,5% este ano.
O economista Paulo Mateus, do Barclays, diz que o PIB do primeiro trimestre de 2009 deve cair cerca de 0,5% em relação ao quarto trimestre de 2008. Para o ano, a estimativa é de retração de 1,5%. "Melhora só se for para o último trimestre, porque haverá o efeito da política monetária. A política fiscal também deve dar impulso à economia", acrescenta.