Título: Não se constrói um projeto para o país na Av. Paulista, diz Aécio
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Fonte: Valor Econômico, 11/03/2009, Política, p. A11

Serra também evitou comentar as declarações do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), que defendeu sua intenção de viajar pelo país em busca de uma "proposta para 2010". "Não vou falar de política porque eu não faria outra coisa e deixaria de governar só para ficar com ´tititi´ político", disse Serra. O consenso em torno das prévias do PSDB está cada dia mais longe. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, resolveu responder ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que criticou sua proposta de viajar pelo país ao lado do governador de São Paulo, José Serra, em campanha pelas prévias, como um desvirtuamento de suas tarefas administrativas nos seus Estados. Renato Cobucci/Hoje em Dia/Folha Imagem Aécio à saída do velório da esposa de um ex-deputado de sua base: revide à crítica do ex-presidente FHC à sua proposta de prévias tucanas

"O que eu tenho dito é que seria importante, nos finais de semana, que pudéssemos andar pelo país, porque, além das nossas tarefas administrativas e, no caso de Minas, me parece que os mineiros julgam que elas vão bem, temos também as responsabilidades políticas na construção de um partido de propostas e acho, inclusive, que o presidente Fernando Henrique seria uma figura muito importante nessas viagens. No seu caso, talvez ele possa até viajar um pouco além dos finais de semana", disse Aécio.

O governador voltou a fazer referências à predominância do eixo paulista do PSDB: "Não se constrói um projeto para o país de alguns gabinetes ou da avenida Paulista. Se constrói caminhando pelo país." E reiteirou sua disposição de não abrir mão da consulta interna ao partido em nome de favoritismos consolidados: "O PSDB estará unido para essa disputa, mas nós não ganhamos essas eleições de forma antecipada como alguns parecem demonstrar. Não digo nem de longe ser o governador Serra, mas para algumas figuras do partido parece que basta apenas nós hoje termos um candidato que ganhamos as eleições. Nós temos de ter um projeto para o país. As prévias, mais do que um instrumento de indicação de um candidato, é um instrumento de definição de projetos, de popularização das propostas do PSDB".

Para Aécio, as prévias do PSDB não seriam uma antecipação da campanha eleitoral, como disse o ex-presidente: "Eu vi declarações do presidente falando da antecipação da escolha do candidato, talvez em função da exposição da candidata colocada até agora como candidata do presidente da República. Não acho que a nossa estratégia tem de ser pautada pela estratégia daqueles com os quais nós disputaremos as eleições. Acho que muito mais importante do que o PSDB definir quem é o seu candidato, é definir o que pretende propor ao país para 2010".

A sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para Aécio, não será uma disputa fácil: " Acho que é uma eleição onde nós temos chances, mas não será fácil. É uma eleição que precisa da nossa unidade e é isso que eu estou buscando construir. Mas eu respeito a posição do presidente Fernando Henrique, como eu tenho certeza que ele respeita a minha".

O governador mineiro deixou claro que pretende manter abertas as portas com o PMDB. Confirmou comparecimento em evento que reunirá amanhã toda a cúpula do PMDB em Belo Horizonte e que está sendo organizado pelo ministro das Comunicações Hélio Costa, que já assumiu sua pré-candidatura ao governo do Estado. "É possível sim que eu vá lá dar um abraço aos meus amigos do PMDB. Eu vou lá como governador do Estado. Você não precisa participar apenas dos atos do seu partido político".

Serra também evitou comentar as declarações do governador de Minas. "Não vou falar de política porque eu não faria outra coisa e deixaria de governar só para ficar com ´tititi´ político", disse Serra ao participar ontem de evento no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo.

O governador de São Paulo, que já acusou o PT de "piratear" suas obras, ainda reclamou da falta de talento do seu partido para o marketing. Segundo ele, falta propaganda para divulgar suas ações no governo estadual, enquanto a propaganda é justamente um ponto forte de seus adversários políticos.

"Não é só problema de recursos, é talento mercadológico, de marketing, que é sempre um ponto fraco do PSDB e um ponto forte do PT", afirmou o tucano em encontro no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.

Durante evento para anunciar parceria do governo estadual com a Federação e Centro do Comércio do Estado, Serra reclamou da falta de divulgação do programa Ação Jovem, que concede bolsas mensais a cerca de 50 mil jovens carentes. "Eu queria mais (propaganda) para que as pessoas soubessem", disse Serra, para mais tarde fazer a ressalva de que o programa não pode ser só "trololó de marketing".

Apesar da reclamação de Serra, o aumento nos gastos em publicidade foi uma das principais críticas da bancada do PT na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) ao Orçamento de 2009. Segundo os petistas, o governo Serra aumentou os gastos com publicidade de R$ 165,9 milhões em 2008 para R$ 313,9 milhões em 2009. O governo afirma que os gastos envolvem despesas gerais com comunicação.

Bem-humorado, o governador paulista usou uma metáfora para comparar o talento mercadológico da sua gestão com o do governo Luiz Inácio Lula da Silva. "A galinha põe o ovo pequeninho, mas cacareja e todo mundo vê. Já a pata põe o ovo maior, mas fica quietinha e ninguém nota. A gente está mais para o lado da pata", disse Serra.

Questionado se o governo federal tem usado esse "talento" para divulgar a pré-candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), Serra desconversou. "Não vamos estender para isso não." (Com agências noticiosas)