Título: CPI dos Grampos é prorrogada por 60 dias
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 11/03/2009, Política, p. A12

Instalada na Câmara dos Deputados em dezembro de 2007, a CPI das Escutas Telefônicas Clandestinas, conhecida como CPI dos Grampos, foi prorrogada ontem por mais dois meses para investigar supostos abusos do delegado da Polícia Federal (PF) Protógenes Queiroz, como quebra de sigilo e monitoramento clandestino de políticos e autoridades. O presidente da comissão, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), pediu o indiciamento do delegado Protógenes, do ex-diretor da PF Paulo Lacerda e do agente da Abin José Milton Campana, por falso testemunho à CPI. Itagiba também propôs o indiciamento do banqueiro Daniel Dantas por interceptação telefônica. Sérgio Lima/Folha Imagem Pellegrino e Itagiba, relator e presidente da CPI dos Grampos: pedidos de indiciamento precisam ser aprovados por toda a comissão

O presidente da comissão justificou que os depoentes mentiram aos parlamentares e que as denúncias contra Protógenes, publicadas no fim de semana pela revista "Veja", reforçam as contradições. Os indiciamentos propostos por Itagiba precisam ser aprovados pelos demais integrantes da comissão.

Os deputados da CPI também deverão determinar quais serão os próximos convocados para prestarem depoimentos na Câmara. A escolha será feita hoje e o relator da comissão, deputado Nelson Pellegrino (PT-BA), defende que sejam convocados, a princípio, o delegado Protógenes, o delegado-corregedor Amaro Vieira Ferreira, o juiz Ali Mazloum - que investigam as denúncias contra Protógenes - e agentes da Abin e da Polícia Federal.

Itagiba começou a sessão da CPI defendendo a si e aos colegas ao dizer que não foram os integrantes da CPI que vazaram informações do inquérito policial, enviados pelo juiz Ali Mazloum, à revista "Veja".

Para evitar que as investigações atinjam o governo federal, a base governista pretende focar as investigações e denúncias no delegado Protógenes . Nelson Pellegrino, relator do caso, rebateu as críticas feitas por colegas, de que não faria nenhum indiciamento que pudesse prejudicar o governo e disse que só indiciar quem "tiver elementos concretos que indiquem que cometeu delitos".

A oposição, entretanto, deve pressionar a comissão para aprofundar as investigações. "Queremos saber o que foi monitorado de Fernando Henrique, de Serra, sem receio das investigações. Até mesmo porque pessoas do governo também foram investigadas", comentou Gustavo Fruet (PSDB-PR), integrante da comissão.

Ontem os parlamentares começaram a analisar os documentos enviados pelo juiz Ali Mazloum do inquérito que apura possíveis abusos cometidos durante a Operação Satiagraha da Polícia Federal (PF), comandada por Protógenes. Na próxima semana Pellegrino pretende reunir-se com o juiz Mazloum e com o juiz Fausto de Sanctis, para pedir informações da Operação Satiagraha.

A CPI foi instalada na Câmara no ano passado, depois que foram reveladas escutas ilegais de conversas do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.