Título: EUA e Reino Unido traçam plano de socorro ao comércio
Autor: Davis , Bob
Fonte: Valor Econômico, 11/03/2009, Internacional, p. A13

Os EUA e o Reino Unido estão montando um plano de várias centenas de bilhões de dólares para enfrentar a maior contração no comércio internacional desde a Grande Depressão dos anos 30.

Autoridades dos dois países disseram que a iniciativa vai ser lançada dia 2 de abril no encontro de líderes das maiores potências econômicas do mundo, em Londres. Não está claro quanto pode ser decidido antes da reunião.

De acordo com a proposta, os fundos viriam do G-20, que inclui nações industrializadas e grandes países em desenvolvimento. Esses países gastariam metade dos recursos para ajudar a financiar exportações. A outra metade iria para o Banco Mundial, bancos de desenvolvimento regionais e o Fundo Monetário Internacional para financiar as exportações do países mais pobres, que exportam para os EUA e a Europa.

"Temos um esboço que exige a cooperação de todos", disse um alto funcionário americano.

O declínio no comércio mundial desativa um potencial mecanismo de desenvolvimento num momento em que o consumo das famílias e a produção industrial também estão em queda. Os efeitos são sentidos em todo o planeta, e especialmente em países em desenvolvimento na Ásia e na América Latina, que dependem das exportações para os Estados Unidos, Europa e Japão para crescer.

Do lado do governo dos EUA, a iniciativa mostra como o novo presidente está tentando se posicionar em relação às questões de comércio internacional. Embora Obama tenha se oposto a muitas propostas de livre comércio durante a campanha presidencial, ele tem governado de forma diferente, levando o Congresso a modificar as cláusulas que privilegiam compras de produtos americanos no pacote de estímulo econômico.

No encontro de Londres, Obama e outros líderes planejam uma frente unida contra o protecionismo. Os líderes do encontro querem que a OMC monitore e divulgue medidas protecionistas, na esperança de constranger os países que não obedecerem às restrições a novos subsídios e outras regras.

A queda na demanda dos países ricos deve gerar o primeiro declínio anual do comércio internacional desde 1982 e o maior em 80 anos, de acordo com estimativa do Banco Mundial. Entre os 51 países que divulgaram dados sobre o quarto trimestre de 2008, disse o Banco Mundial, 36 mostram declínio de dois dígitos nas exportações na comparação com o mesmo período de 2007, usando números que não descontam a inflação.

Em outubro de 2008, a Índia teve seu primeiro declínio nas exportações em relação ao ano anterior. No Camboja, a indústria têxtil demitiu 30 mil - 10% da força de trabalho - no setor mais importante para as exportações.

O aperto do crédito global agravou o problema ao aumentar o custo do financiamento ao comércio exterior e torná-lo ainda mais escasso. O relatório do Banco Mundial informa, com base em dados da empresa de acompanhamento econômico Dealogic, que o financiamento ao comércio internacional encolheu cerca de 40% no último trimestre de 2008 frente ao ano anterior.

A americana Behlen Manufacturing, do Estado de Nebraska, informou que tem vários grandes projetos na Rússia e na Ucrânia que estão parados por falta de financiamento. A empresa, que fabrica elevadores para armazenamento de grãos, disse que, no passado, os clientes desses países poderiam obter financiamento de fontes europeias ou nacionais. "O crédito está muito mais apertado", disse Lyle Burbach, superintendente da divisão internacional da empresa.

Desde o tempo dos grande polos comerciais, o financiamento ao comércio exterior - linhas de crédito, apólices de seguros e outras garantias - ajudou as empresas dos mais diferentes países a fazer negócios entre si. É o óleo que lubrifica os cerca US$ 14 trilhões do comércio internacional.

As agências de crédito à exportação garantem que o governo compartilhe as perdas em operações malsucedidas. O Banco Mundial e outras agências de desenvolvimento oferecem garantias similares em países muito pobres e incapazes de ter seus próprios mecanismos de financiamento. Normalmente, isso tem sido suficiente para estimular o crédito.

Na crise atual, os bancos estão receosos de emprestar um ao outro e, por isso, diferentes tipos de financiamento governamental estão sendo postos em prática. Nos EUA, o Banco para Exportações e Importações aumentou o financiamento direto a bancos que usarem os fundos para emprestar a exportadores. O Banco Mundial também está começando um programa similar para os países mais pobres. De acordo com a iniciativa conjunta dos EUA e do Reino Unido, o financiamento às garantias de comércio e ao crédito direto seriam fortemente reforçados.