Título: Presidente pretende falar em favor de Hugo Chávez
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2009, Brasil, p. A2
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer aproveitar o encontro com o presidente dos EUA, Barack Obama, para recomendar a "ótica certa" com que os americanos devem olhar para a América Latina, disse o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. Ao expor as expectativas do governo brasileiro em relação ao encontro - o primeiro de Obama com um líder sul-americano -, Amorim afirmou que Lula espera mostrar a Obama as características das mudanças políticas na região, para recomendar respeito aos "anseios" que levaram os atuais governos ao poder nos países latino-americanos. Ruy Baron/Valor
Celso Amorim: "Temor é palavra que não faz parte de nossa política externa"
Como parte do esforço, Lula intercederá em favor do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que já endossou a mediação brasileira pelo restabelecimento de relações amistosas entre os dois países. Amorim lembrou que as mudanças políticas na Venezuela foram aprovadas em referendos com observadores internacionais e saudou a reação do governo Obama ao resultado do último deles, que abriu caminho para reeleições ilimitadas para cargos executivos.
O ministro desdenhou da análise do Diálogo Interamericano, um centro de estudos dos EUA especialista em América Latina, que não acredita existirem condições de aprofundar o relacionamento entre Brasil e EUA, porque, entre outros motivos, o Brasil temeria perder a influência na região caso se aproxime mais dos EUA.
"Temor é palavra que não faz parte de nossa política externa", disse Amorim, acusando a entidade de ter feito análises equivocadas sobre o país no passado. Amorim negou que, como noticiou no fim de semana o jornal espanhol "El País", o Brasil possa substituir a Venezuela como fornecedor de petróleo aos EUA. Se há interesse em alternativas na área de energia, os EUA devem eliminar as tarifas cobradas sobre importação do etanol brasileiro, repetiu o ministro.
Para Amorim, Obama e seus auxiliares já têm consciência da necessidade de mudar a política em relação aos novos governos da América Latina (a maioria com forte discurso anti-americano). Mas, segundo acredita, essa disposição demora a chegar aos escalões mais baixos da hierarquia de governo. Ao falar do encontro de sábado, Amorim ironizou as dificuldades do governo Obama para resolver a crise do sistema de saúde. "Quem sabe eles não têm algo a aprender com nosso SUS? É um sistema de atendimento universal. Lá 40 milhões estão fora do sistema."