Título: Extensa rede de contatos
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 11/02/2010, Cidades, p. 39

No dia em que negociava suposto acordo com Arruda, o jornalista Edson Sombra ¿ tido como peça-chave no inquérito contra o governador ¿ recebeu em sua casa Eliana Pedrosa, Eri Varela e Mauro Cézar Lima

Vídeo com Antônio Bento e Edson Sombra (D): suposto suborno teria sido negociado na casa do jornalista

Orbita ao redor do homem considerado a principal testemunha do inquérito contra o governador José Roberto Arruda, o jornalista Edson Sombra, uma rede de deputados, advogados e personalidades que transitam entre grupos políticos de diferentes correntes. Mentor da delação premiada do ex-secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa, Sombra é o cabeça das denúncias que culminaram na crise que abalou o Executivo e o Legislativo no Distrito Federal. Mas ele não age sozinho.

Num dos vídeos gravados pelo próprio jornalista durante suposta negociação com o consultor do Metrô-DF Antônio Bento, preso na semana passada pela Polícia Federal (PF) por suposta tentativa de suborno, o próprio Sombra cita quem são algumas das pessoas de sua relação. No momento em que Bento tratava de detalhes de um suposto acordo oferecido pelo governador José Roberto Arruda, Sombra recebia em sua casa a deputada distrital Eliana Pedrosa (DEM), o advogado Eri Varela e o delegado Mauro Cézar Lima, presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil do DF (Sindepo-DF) ¿ casado com a promotora Maria Rosynete Lima, uma das autoras da ação civil pública que pediu o afastamento dos oito deputados distritais investigados na Operação Caixa de Pandora.

Sombra contou a várias pessoas que estava sendo assediado para ajudar a atenuar a crise do governo Arruda. Ele chegou a mostrar o bilhete com a letra de Arruda que recebeu do ex-deputado distrital Geraldo Naves (DEM) a autoridades que estiveram em sua casa, como o deputado distrital Alírio Neto (PPS), que deixou o governo no fim do ano passado após o início do escândalo. Sombra relatou o ocorrido em depoimento à PF depois do flagrante em que Bento foi preso num restaurante do Sudoeste.

Embora fosse considerado um aliado de Arruda, Alírio manteve a discrição sobre o bilhete que esquentou a crise no governo. Por causa da denúncia de suborno, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pediu nesta semana providência ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para o afastamento ou até mesmo a prisão preventiva do governador.

Impeachment Eliana Pedrosa ocupava uma das principais áreas no governo, a Secretaria de Desenvolvimento Social. Depois do escândalo, afastou-se do Executivo e hoje é considerada uma pessoa próxima de Sombra. Embora seu nome seja contabilizado como integrante da base de sustentação do governo, a distrital não é do grupo de confiança de Arruda. Eliana chegou a cogitar entrar na disputa pela presidência da Câmara Legislativa. Nessa empreitada, ela tinha, inclusive, o apoio de Alírio. Mas foi derrotada pelos demais deputados fiéis ao governador. No GDF, havia uma avaliação de que Eliana facilitaria o andamento dos processos de impeachment contra Arruda.

No início da semana, Eliana Pedrosa denunciou em plenário que está sendo alvo de arapongagens e teria sido seguida por uma pessoa que conduzia carro com chapa fria. A distrital acha que a investida partiu de pessoas ligadas a Arruda, para intimidá-la. Eliana disse a algumas pessoas desconfiar que Francisco Monteiro, que durante um período exerceu cargo em seu gabinete, atuou como espião. Monteiro é investigado pela Polícia Civil como um dos responsáveis pelo suposto grampo ilegal na Câmara. De 22 de janeiro a 8 de fevereiro, ele esteve lotado na Secretaria de Relações Institucionais do GDF. Em seguida, foi nomeado no gabinete do deputado Benedito Domingos (PP), um dos investigados na Operação Caixa de Pandora.

Protesto do Buriti ao STF

Luísa Medeiros

Manifestantes contra o governador José Roberto Arruda (sem partido) fizeram um protesto no fim da tarde de ontem no Eixo Monumental. Eles estavam no show do músico e apresentador João Gordo e da banda DFC, na Praça do Buriti, e decidiram invadir as três faixas da avenida em frente ao Palácio do Buriti. De lá, cerca de 200 pessoas seguiram caminhando, entre os veículos, até o Supremo Tribunal Federal (STF). Ao contrário do que aconteceu há dois meses, os 150 policiais militares que acompanhavam o ato não impediram a marcha no asfalto nem usaram da violência para tirar as pessoas da rua. Apesar de terem complicado o trânsito, os participantes do protesto contaram com a simpatia de alguns morotistas, que buzinavam em apoio à mobilização.

João Gordo estava gravando ontem um programa de TV satirizando a atual crise política do Distrito Federal. Por uma hora, ele e a banda brasiliense se apresentaram em cima de um trio elétrico. Além de cantar músicas próprias, os artistas distribuíram dinheiro falso e repetiram os gritos de guerra usados pelo Movimento Fora Arruda. ¿Arruda na Papuda e PO no xilindró¿ e ¿Corrupto e ladrão, onde está o mensalão?¿ foram algumas das frases escolhidas. Antes de tocar na praça, o apresentador esteve na Câmara Legislativa para entrevistar alguns distritais citados na Operação Caixa de Pandora.

Por volta das 18h30, os manifestantes tomaram as pistas do Eixo Monumental, na altura do Palácio do Buriti. João Gordo abandonou o movimento. Os PMs foram orientados a desobstruir o trânsito. E os manifestantes seguiram andando até o STF. A caminhada de duas horas terminou na rampa de acesso ao prédio. Não houve registro de confrontos entre os manifestantes e a polícia.

Varredura em busca de grampos na Câmara

JULIANA BOECHAT Carlos Silva/Esp. CB/D.A Press Integrantes do Movimento Fora Arruda caminharam pelo Eixo Monumental até o Supremo Tribunal Federal: mais de duas horas de manifestação

A Câmara Legislativa foi lacrada ontem, por volta das 19h. O Departamento de Operações Especiais (DOE) e o Instituto de Criminalística da Polícia Civil deram início a uma varredura nos gabinetes dos deputados distritais. A medida foi pedida por parlamentares da oposição, que suspeitam da existência de escutas ambientais e grampos telefônicos ilegais na Casa. Na última quarta-feira, dois policiais civis de Goiás foram presos, no último dia 3, acusados de monitorar parlamentares. A busca por equipamentos eletrônicos clandestinos se estendeu pela madrugada e ainda não tem data para terminar. Os 24 gabinetes serão inspecionados, além da presidência e vice-presidência.

A operação foi realizada após o fim dos trabalhos na Câmara. O presidente da Câmara, Wilson Lima (PR), pediu que apenas um segurança legislativo e um funcionário de cada gabinete ficassem no local para observar o trabalho da polícia. ¿Quando for identificada uma irregularidade, o gabinete será isolado e tratado como local de crime¿, explicou o assessor do Departamento de Atividades Especiais da Polícia Civil, Fábio Souza.

CPI Distritais integrantes da CPI da Codeplan receberam ontem cópia do Inquérito nº 650, em tramitação no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que investiga as denúncias de suposto esquema de corrupção e pagamento de propina envolvendo a cúpula do governo, empresários e deputados distritais. Os parlamentares estiveram reunidos com o ministro do STJ Fernando Gonçalves, relator do inquérito. Ele pediu mais tempo para entregar as informações que correm em segredo de Justiça.

Os deputados acreditam que o acesso ao conteúdo vai agilizar as investigações da comissão ¿ que hoje completa um mês de instalação sem nada apurado. O andamento da CPI é tão lento que os deputados não conseguem nem definir a composição. Ainda falta preencher duas das cinco vagas previstas em lei ¿ dessas, uma é para a cadeira de presidente. A falta de nomes adiou para mais uma semana a eleição. A próxima reunião está marcada para o dia 18. Até lá, o presidente Wilson Lima terá a missão de encontrar alguém que tope investigar o GDF.

Colaboraram Luisa Medeiros e Daniel Brito

Habeas corpus preventivo

» O advogado Artur Celso Fonseca entrou com um pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça em favor do governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (sem partido). Se concedido pela Justiça, o habeas corpus impedirá uma eventual prisão de Arruda. Na última terça-feira, a OAB nacional sugeriu à Procuradoria-Geral da República o afastamento ou até mesmo a prisão preventiva do governador. De acordo com o advogado de Arruda, Nélio Machado, o pedido de habeas corpus não é uma estratégia da defesa do governador. A ação foi movida contra o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT).

Quem é quem

Eliana Pedrosa Deputada distrital eleita pelo DEM, atuou como secretária de Desenvolvimento Social até o início da crise deflagrada pela Operação Caixa de Pandora. Eliana sempre teve uma relação difícil com o governador José Roberto Arruda, apesar de ocupar cargo no Executivo. Ela nunca foi considerada uma aliada confiável de Arruda. Os dois tiveram atrito em pelo menos dois momentos: quando Eliana tentou ser presidente da Câmara em 2007 e quando pleiteou uma vaga no Tribunal de Contas do DF.

Eri Varela O advogado e conselheiro do ex-governador Joaquim Roriz sempre participou dos bastidores políticos no DF. Foi candidato pelo PMDB a uma vaga de deputado federal, mas não se elegeu. Antes disso, presidiu a Terracap ¿ defendia licitação de terrenos públicos em condomínios. Foi pivô de uma crise na campanha de 2002, quando denunciou à Polícia e ao Ministério Público a suposta iniciativa do então candidato a deputado distrital Pedro Passos na constituição de um condomínio irregular entre as QIs 27 e 29, do Lago Sul.

Mauro Cézar Lima Delegado da Polícia Civil do DF, Mauro Cézar é presidente do sindicato que representa a classe, o Sindepo. Filiado ao PTdoB, é um grande aliado do deputado federal Laerte Bessa (PSC) e do ex-governador Joaquim Roriz. Deverá disputar eleição para deputado distrital. É casado com a promotora de Justiça Maria Rosynete Lima, uma das autoras da ação civil pública que resultou no afastamento dos oito deputados distritais investigados na Operação Caixa de Pandora.

Diálogo

Trechos de um dos vídeos gravados por Edson Sombra, no qual Antônio Bento detalha suposta proposta de acordo para favorecer Arruda. Na conversa, três autoridades são citadas:

Sombra ¿ Como é que será feito isso? Ele manda você trazer o dinheiro? Bento ¿ Inaudível Sombra ¿ Essa carta não sai daqui, velho. Vai-te embora e diz pra ele (¿) quem tá aqui: Eliana, Eri, Mauro Cézar e chegando gente lá na casa dele. Bento ¿ Então faz o seguinte: você me dá uma carta. Eu vou falar para ele: inaudível Sombra ¿ Não dou. Bento ¿ Você não confia em mim? Sombra ¿ Não dou. Eu sei o que esse cara tá armando. Não dou. Você é doido, rapaz? Tô te falando. Como é que você, que é um cara de confiança dele, ele não te entrega o que ele tem que¿