Título: EUA propõem ao G-20 metas globais anticrise
Autor: Paletta , Damian
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2009, Internacional, p. A15

O governo americano desafiou outros países a responder mais agressivamente à crise mundial ao detalhar de maneira inédita um conjunto de metas específicas para isso.

As metas apresentadas pelo governo de Barack Obama são um aumento dos recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e reforço dos programas de estímulo de cada país.

Os Estados Unidos não costumam estabelecer parâmetros de sucesso antes de reuniões internacionais, o que aumenta os riscos para Obama e seu secretário do Tesouro, Timothy Geithner, na primeira incursão do presidente no palco internacional.

"Há um reconhecimento generalizado de que nossa sorte está estreitamente ligada à do resto do mundo", disse Geithner. "E se não fizermos que o mundo se mexa com a gente, então enfrentamos alguma perspectiva de uma recessão mais profunda e duradoura nos Estados Unidos."

A pressão, que também representa uma mudança significativa na posição dos EUA em relação ao FMI, é parte de um esforço de Obama para incentivar líderes de outros países a atacar a crise financeira mais diretamente.

Em comentários antes da reunião neste fim de semana de ministros da Fazenda do Grupo dos 20 - que representa os maiores países industrializados e em desenvolvimento do mundo -, Geithner disse que as autoridades americanas também proporiam esforços para reformar a supervisão dos mercados financeiros, ecoando reivindicações de autoridades europeias de que grandes companhias financeiras multinacionais têm de se sujeitar a uma fiscalização mais rígida, inclusive maiores exigências de capital.

Geithner propôs vários aumentos na oferta de recursos ao FMI, que poderiam aumentar sua capacidade de crédito para cerca de US$ 1 trilhão. É substancialmente mais do que diretores do FMI haviam solicitado e reflete a visão dos EUA de que é importante mostrar aos mercados que o mundo amealhou recursos suficientes para combater a crise.

As autoridades americanas estão propondo um aumento na linha de crédito emergencial do FMI para países em dificuldade de US$ 50 bilhões para US$ 500 bilhões, o que poderia aumentar o compromisso americano de US$ 10 bilhões para US$ 100 bilhões.

A proposta também busca mais compromissos de dinheiro da China e de outros países em desenvolvimento. As autoridades americanas vão pressionar para que esses países tenham um papel maior nas discussões mundiais, junto com seu maior comprometimento financeiro.

Partes da nova estratégia americana podem ser polêmicas, especialmente a proposta de expandir os poderes e o alcance do FMI. O aumento do fornecimento de recursos exigiria aprovação de um Congresso relutante. As autoridades americanas também pressionarão o FMI a divulgar relatórios trimestrais sobre política monetária e iniciativas de estímulo financeiro de cada país do G-20, para impedir que um país tire proveito dos gastos de outro.

Um porta-voz do FMI disse: "Recebemos a proposta do Tesouro dos EUA como um passo bastante positivo para assegurar ao sistema financeiro global que o FMI tenha o nível apropriado de recursos para atender às necessidades de seus membros."

Geithner vai se reunir com outros ministros econômicos do G-20 nos arredores de Londres neste fim de semana. Obama vai se encontrar com outros líderes do G-20 em 2 de abril para finalizar um plano de ação.

"É muito importante para o povo americano entender que, por mais agressivas que sejam as medidas que tomamos até agora, é muito importante assegurar que outros países movam na mesma direção, porque a economia mundial está toda interligada", disse o presidente Obama.

Geithner também deu uma prévia da reforma das regras financeiras que o governo Obama deve detalhar mais completamente nas próximas semanas. Ele disse que o plano incluiria limites muito mais rígidos para as grandes empresas do setor, bem como regras mais duras para proteger os clientes. Ele sugeriu que as propostas incluiriam uma consolidação da supervisão e que o Federal Reserve, o banco central dos EUA, teria um papel bem maior, possivelmente como regulador para grandes riscos à economia.

Ainda assim, ele não chegou a propor um regime de supervisão internacional e reconheceu que cada país deve adotar novas políticas de maneiras diferentes.

Separadamente, Geithner disse que estava "um pouco surpreso" com comentários feitos pelo chefe da Casa Civil do Reino Unido, Gus O"Donnell, que apareceu no noticiário britânico dizendo ter tido dificuldade para encontrar gente no Departamento do Tesouro dos EUA para falar sobre o encontro. Geithner disse que tem se reunido continuamente com autoridades britânicas sobre o G-20 e acredita que há "muita coisa em comum" entre os dois países.