Título: China chega a encruzilhada na política comercial
Autor: Dyer , Geoff
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2009, Internacional, p. A15

As exportações chinesas sucumbiram ontem ante a força da turbulência econômica mundial. Mesmo depois do show de horrores das estatísticas econômicas em torno do mundo nos últimos meses, os números de exportação da China em fevereiro pintam um quadro sombrio. AP

Contêineres no porto de Xangai: queda das exportações chinesas de 25,7% em fevereiro suscita debate interno

Alguns analistas vinham esperando uma recuperação modesta, mesmo porque houve menos dias de trabalho em fevereiro do ano passado, por causa dos feriados. Em vez disso, as exportações despencaram 25,7%.

"Era mesmo só uma questão de tempo", disse Michael Pettis, professor de finanças da Universidade de Pequim. "Depois dos resultados dos outros países da Ásia, os números recentes das exportações chinesas não poderiam ser sustentados." As exportações chinesas vinham caindo mensalmente desde novembro, mas, até ontem, vinham registrando quedas nim ritmo menor do que no resto da Ásia.

Para os diplomatas chineses se preparando para o encontro do G-20, os números de comércio pode ser um alívio. O superávit comercial, em particular, que vinha desde perto do recorde de US$ 40 bilhões de outubro, caiu drasticamente para US$ 4,8 bilhões em fevereiro.

Com a recessão mundial se aprofundando, a China temia que seu grande superávit encorajasse ações protecionistas e que outros governos do G-20 pressionassem Pequim a valorizar sua moeda.

A China nesta semana lançou sua segunda grande missão de compras na Europa em menos de um mês, num esforço de diminuir os sentimentos protecionistas.

O governo chinês também está enfrentando o aumento de tensões comerciais com alguns de seus vizinhos, depois de começar a registrar superávits nas relações com o resto da Ásia nos últimos meses. A Índia já impôs restrições às importações de brinquedos chineses e as autoridades temem que mais medidas assim apareçam na região.

Os dados divulgados ontem vão dar ao governo chinês a chance de argumentar que está começando a reequilibrar sua economia, com as exportações caindo de modo agudo e as importações desacelerando de modo menos rápido, num momento em que o plano de estímulo começa a dar resultados.

O aumento de 26% nos investimentos em ativos fixos de janeiro para fevereiro dá alguma credibilidade a essa história, assim como os grandes aumentos nos empréstimos bancários.

"Isso nos dá uma chance de antever como a China ficará, caso o plano de estímulo comece a dar resultado", disse Paul Cavey, economista da Macquarie Securities.

Entretanto não está claro se essa tendência seria sustentável, devido aos dados fracos de demanda. "Você poderia ver a queda das importações das importações daqui a alguns meses, assim como o aumento do superávit comercial", disse ele.

Um superávit comercial menor teria outras implicações internacionais, inclusive com menos investimentos chineses em ativos financeiros dos EUA. Com o investimento externo direto na China também desacelerando e com alguns sinais de saída de capitais, muitos economistas estão prevendo que as reservas de moeda estrangeira da China não devem crescer do mesmo modo que cresceram no ano passado.

Entretanto, mesmo que os números de ontem ajudem a diminuir as críticas internacionais em relação à China, eles também devem aumentar as já grandes pressões que o governo vem enfrentando do setor exportador em casa. Um declínio tão forte nas exportações provavelmente significará que mais fábricas ficarão à beira do abismo e que mais desemprego pode ser esperado.

Os exportadores chineses devem aumentar a pressão pela depreciação da moeda. O governo vem rejeitando essa medida. E economistas dizem que uma desvalorização modesta na moeda daria pouca ajuda aos exportadores, além de enfurecer os parceiros comerciais.

Em vez disso, o governo vem trabalhando em outras medidas para tentar ajudar os exportadores. O ministro do Comércio, Chen Deming, disse no fim de semana que a China vai reduzir a zero os impostos de exportação e dar mais assistência financeira aos exportadores.

Mas essas medidas trazem em si outros perigos, pois o governo poderia parecer estar fazendo demais pelos exportadores, o que encorajaria medidas retaliatórias de seus parceiros comerciais.

"Se o mercado europeu começar a ser inundado de novo com aço barato chinês, haverá uma grande briga", disse nesta semana um diplomata europeu em Pequim.