Título: Dilma promete entregar casas em 11 meses
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2009, Especial, p. A18

Em mais de duas horas de palestra e conversas com representantes políticos do Nordeste, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, fez do pacote habitacional a ser lançado pelo governo sua principal bandeira. Para deputados federais e prefeitos da região em que o governo federal tem maior aprovação, Dilma prometeu subsídios substanciosos para a construção de moradias para famílias de baixa e até mesmo a entrega das chaves em um terço do tempo habitual para uma casa ser erguida.

As propostas da ministra chamaram a atenção de deputados federais nordestinos e prefeitos que acompanharam a palestra improvisada em um restaurante da Câmara. A construção das casas foi explicada como um programa social. " O pacote habitacional é muito mais que um pacote. É um programa " , disse aos parlamentares. Logo em seguida, Dilma destacou que a última vez que houve um programa habitacional semelhante " foi para a classe média e para a classe média alta " e que agora o governo vai subsidiar fortemente as construções para famílias de baixa renda. Quem ganha pouco, explicou a ministra, só consegue pagar a prestação de uma casa se ficar sem comer, sem usar transporte, " sem viver " . E que enquanto o mutuário não estiver " com a chave na mão não pagará a prestação " . As famílias mais carentes pagarão apenas uma prestação simbólica.

Dilma afirmou que dará celeridade à concessão de licenças ambientais e que já pediu ao ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que elas sejam dadas em até um mês. A ministra também falou que a construção das casas não passará por processo licitatório, porque o governo aplicará seus recursos diretamente no financiamento do mutuário. E destacou o tempo de construção das casas: " Hoje o ciclo produtivo é de 33 meses " , explicou, " mas estamos tentando diminuir esse ciclo para 11 meses " , da compra do terreno até a " chave na mão " do mutuário. Dilma, entretanto, esquivou-se de dar muitos detalhes do projeto que, segundo ela, serão fornecidos em uma " divulgação minuciosa " .

Horas mais tarde, na sequência de uma maratona de eventos políticos, Dilma destinou parte de sua manhã para um encontro com religiosos da CNBB para falar de outro tema comum em seus discursos: o pré-sal. E usou seus tradicionais slides na exposição. Depois do encontro com bispos, organizado por Gilberto Carvalho, assessor do presidente, a ministra retomou a explicação sobre o plano habitacional. Boa parte do esforço em cumprir o prazo de 11 meses, disse, dependerá das construtoras. O governo criará condições para dar celeridade às construções.

A meta do plano é ambiciosa: construir um milhão de casas para famílias de baixa renda até 2010. A ministra destacou o esforço que o governo está fazendo junto a governadores e prefeitos para conseguir a maior isenção tributária possível a materias de construção e que os investimentos do governo federal não devem ir para a arrecadação dos Estados. " Não vamos transferir recursos nem para prefeitos nem para governadores " , explicou. " Tem que ir para o bolso do mutuário. "

Munida de um microfone, a ministra iniciou sua palestra destacando que os ganhos sociais no Nordeste foram maiores do que na média brasileira. " A boca do jacaré está ficando mais fechada " , disse, explicando que o " Nordeste está na parte de cima da boca do jacaré e o Brasil, na parte de baixo " . Dilma usou palavras de fácil compreensão e até brincou ao dizer que a indústria naval " está bombando " , usando uma expressão " dos jovens " , como explicou depois. Para os representantes políticos da região em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem o maior índice de aprovação, a ministra destacou: " O Bolsa Família é o programa que tem a cara do Nordeste " .

A ministra recebeu pacientemente as perguntas dos deputados, mas não admitiu ser interrompida enquanto explicava projetos do governo. Na palestra sobre os investimentos do governo no Nordeste, não houve questionamento da ministra sobre suas pretensões eleitorais.

As principais dúvidas dos deputados eram sobre o papel que a Caixa Econômica Federal teria no pacote habitacional e a ministra foi direta: disse que o banco será um dos instrumentos principais para colocar em execução o plano habitacional.

A crise não foi muito questionada pelos deputados, mas a ministra disse que a queda de 3,6% do PIB no último trimestre de 2008 foi " muito forte " . Momentos depois, na CNBB, minimizou os efeitos da crise no país. " Acho que tem muita gente pessimista " , disse, completando que o governo agiu " prontamente " para combater a crise. Por fim, criticou a oposição que fez parte do governo Fernando Henrique Cardoso que sugeriu a criação de um gabinete da crise: " É política que quem não segurou a barra e teve apagão. "