Título: Grupo japonês propõe bancar sozinho refinaria no Maranhão
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2009, Empresas, p. B1

À caça de recursos para financiar seus novos projetos, a Petrobras pode fechar uma parceria de longo prazo com o Japão para a refinaria "premium" que construirá no Maranhão, um projeto estimado em R$ 20 bilhões. O conglomerado japonês Marubeni se dispôs a bancar todo o investimento, sem a necessidade de desembolsos da estatal brasileira, que pagaria com o fornecimento dos derivados de petróleo produzidos na refinaria. "A Petrobras terá dispêndio zero", afirmou, em entrevista ao Valor, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que vê boas chances de acordo e aposta no início das obras da refinaria até dezembro.

"Eles (os japoneses) estiveram na Petrobras e já assinaram um protocolo de intenções. É uma proposta firme", anunciou o ministro. A refinaria do Maranhão terá capacidade para processar 600 mil barris de petróleo por dia. O primeiro módulo, com 300 mil barris, deve ficar pronto em 2013; o segundo, completando o empreendimento, é para 2015.

Voltada para a produção de óleo diesel de alta qualidade, atendendo os padrões exigidos pelos países ricos, a refinaria deverá processar um "mix" de petróleo pesado da Bacia de Campos e de petróleo leve a ser extraído da camada pré-sal. Lobão informou que já existe um esboço da estrutura societária. "Em princípio, a Petrobras teria 100%. Mas a empresa que vai financiar concordou em associar-se, mesmo com uma parcela pequena. Será uma fatia minoritária. Isso ainda não está ajustado, mas poderá ser algo entre 10% e 15%."

O grupo Marubeni atua em uma dezena de setores - de alimentos à petroquímica, passando por produtos florestais e máquinas pesadas, além de construção civil - e tem escritórios nos cinco continentes. Em 2008, segundo informações disponíveis no sítio do grupo na internet, faturou mais de US$ 100 bilhões. O grupo foi procurado para comentar a notícia, mas não retornou os contatos.

O financiamento japonês é próximo do valor negociado com a China - até US$ 10 bilhões - para projetos de exploração do pré-sal. No mês passado, durante visita do vice-presidente chinês Xi Jinping ao Brasil, os dois países assinaram um memorando de entendimentos em que manifestam a intenção de cooperar na área energética. Com esse tipo de financiamento, a Petrobras evita colocar a mão no bolso agora para executar seu plano de investimentos. Mas pode comprometer a geração de caixa no futuro, pois não receberá pelo fornecimento de derivados.

Paralelamente à negociação de novas parcerias, o governo tentará solucionar em definitivo o impasse com a Venezuela em torno da refinaria de Suape. Lobão se reunirá amanhã, em Brasília, com o ministro de Energia e presidente da PDVSA, Rafael Ramírez. Até agora, a petrolífera venezuelana não investiu um centavo na refinaria pernambucana, em que terá participação até 40%, segundo protocolo de intenções em vigor. O projeto, de R$ 9 bilhões e cuja inauguração é prevista para o fim de 2010, tem recebido recursos só da Petrobras.

"Vamos tentar desembaraçar definitivamente esse nó", disse Lobão, que participará de reunião da Opep, a organização dos países exportadores de petróleo, no sábado. "Queremos compatibilizar interesses e concluir os entendimentos. Se conseguirmos, tudo resolvido. Se não conseguirmos, a Petrobras continuará investindo normalmente."

O impasse gira em torno de duas questões. A primeira se refere ao preço que a PDVSA quer cobrar pelo fornecimento de 50% do petróleo a ser processado na refinaria. O valor estaria acima da cotação internacional - o barril venezuelano é mais barato, no mercado, por tratar-se de um óleo mais pesado. Esse ponto é descrito por Lobão como "um detalhe" nas negociações em curso.

O que realmente preocupa o ministro, e deverá ocupar boa parte das conversas com Ramírez, é a intenção da PDVSA de entrar no mercado de distribuição de derivados no Nordeste. "Não temos nada contra, desde que os preços sejam compatíveis com os que se praticam no Brasil". Explica Lobão: com 40% de participação societária, a petrolífera venezuelana terá direito a igual proporção dos produtos. O problema é o desejo que ela tem de vender os derivados para uma rede de distribuição própria no Nordeste. Como os distribuidores locais compram derivados de refinarias do Rio de Janeiro ou de São Paulo, a vantagem econômica da PDVSA poderia "quebrar os outros", nas palavras de Lobão.

O ministro garantiu que o governo brasileiro quer fechar de vez a parceria com a Venezuela, mas cobra "realismo" dos vizinhos. "Toda vez que se discute uma questão dessa envergadura, é preciso ter uma posição realista. Sem isso, nada pode andar", acrescentou.

Quanto à definição do marco regulatório para a exploração de petróleo na camada pré-sal, Lobão disse que ainda é preciso fazer "mais uma ou duas reuniões" no Palácio do Planalto para definir as novas regras, o que poderá ocorrer em abril.