Título: Fipe apura em fevereiro menor índice de inflação em cinco meses
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2005, Brasil, p. A2

Com a ajuda da desaceleração do movimento de alta dos preços de educação e da queda do item vestuário, a inflação ao consumidor em São Paulo fechou fevereiro com variação de 0,36%, após uma alta de 0,56% no mês anterior. Por outro lado, as maiores pressões altistas vieram do imposto predial territorial urbano (IPTU), da elevação dos preços de alguns produtos in natura, além do transporte urbano, com aumento da passagem do metrô e do ônibus intermunicipal. O resultado de fevereiro foi o menor desde setembro de 2004 e ficou ligeiramente abaixo da expectativa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), responsável pela pesquisa de preços, que era de 0,4%. Segundo Paulo Picchetti, economista da entidade, o arrefecimento dos preços de alimentos in natura permitiu uma taxa menor do que a esperada. No mês, a alta desses produtos ficou em 5,2%, influenciada pelo aumento de mais de 22% nos preços do alface, 18,9% no tomate e de 11,7% na batata.

Para março, a perspectiva de uma inflação na casa de 0,4% foi por água abaixo devido ao reajuste, anunciado na última terça-feira, na tarifa dos ônibus municipais. Com a passagem em R$ 2, o que representou um aumento de 17,65%, a Fipe calcula que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) será impactado em 0,64 ponto percentual. A maior parte desse efeito será sentida em março, com 0,55 ponto percentual e, em menor escala em abril, quando o impacto no índice será de 0,09 ponto percentual. Para março, Picchetti projeta alta de 0,8%. O economista da Fipe acredita que o resultado esperado para o IPC deste mês não representa uma nova tendência ou um novo patamar para a inflação em São Paulo. Segundo ele, os preços seguem comportados. Prova disso é a queda do índice de difusão - que mede a porcentagem de itens em alta no IPC - de 66% em janeiro para 56% em fevereiro. Além disso, a cesta de produtos industrializados cedeu de 0,43% para 0,11%, enquanto que os bens não-comercializáveis passaram de uma inflação de 0,18% para variação negativa de 0,23% no período. Na medição imediatamente anterior, os in natura tinham subido 5,31%. Mesmo com a elevação de março, a Fipe mantém a previsão do fechamento do ano entre 5% e 5,5%. Para Picchetti, os Índices de Preços Gerais (IGPs) têm apresentado resultados baixos e serão boa notícia para o varejo. "Teremos menor impacto sobre tarifas e menos pressão por repasse de preços", disse. O reajuste da tarifa de ônibus em São Paulo, que também deverá ocorrer em outras capitais do país, e o reajuste de 71,5% nos preços do minério de ferro fizeram com que economistas revisassem suas previsões de inflação ao consumidor tanto para os meses de março e abril como também para as variações acumuladas ao final do ano. O economista Alex Agostini, da GRC Visão, elevou sua expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, de 0,45% para 0,7%, porém contabilizou apenas o reajuste do ônibus. "O impacto direto do minério sobre o IPCA é nulo, mas poderá ocorrer repasse ao longo da cadeia produtiva", ressalta. A previsão para o acumulado no ano foi de 5,8% para 6,1%. Pelos cálculos do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Thadeu Gomes Filho, a contribuição do reajuste do ônibus em São Paulo no IPCA será de 0,24 ponto percentual. Em março, o impacto será de 0,20 ponto percentual e o restante ficará para abril.