Título: Visita oficial de Bush ao Brasil deve ocorrer em novembro, diz Dirceu
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2005, Brasil, p. A5

O governo brasileiro espera uma visita oficial do presidente americano George Bush ao Brasil este ano. O assunto foi discutido ontem pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu, com a secretária de Estado, Condoleeza Rice. Embora não haja ainda confirmação oficial, o ministro acha que a tendência é de que isso ocorra em meados de novembro. O convite foi feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante sua visita oficial aos EUA, no ano passado. Bush já confirmou a ida a Mar del Plata, na Argentina, durante a primeira semana de novembro para a quarta Cúpula das Américas, com presidentes dos países do hemisfério. A visita oficial ao Brasil poderia ocorrer pouco antes ou pouco depois dos compromissos na Argentina. Na reunião com a secretária de Estado dos EUA, Dirceu disse ter ressaltado a disponibilidade brasileira de retomar as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), e ficou satisfeito ao ouvir do assessor da Casa Branca Steven Hadley que as negociações vão usar como base a declaração ministerial de Miami, que criou dois níveis diferentes de negociação, o da Alca "light", de acesso a mercados, e o segundo nível, com mais compromissos em áreas como propriedade intelectual e e investimentos. "O importante é que haja um desbloqueio e que se retome as negociações", disse Dirceu, lembrando, entretanto, que o Brasil tem uma economia e indústria diversificadas, PIB de R$ 1,35 trilhão e não pode ter o mesmo tratamento de outros países menores do hemisfério. O ministro lembrou que os problemas na negociação advêm da dificuldade de compatibilizar interesses muito diversos nos dois países e da necessidade de negociar o acordo comercial com o Congresso dos EUA e o brasileiro. O porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, disse que "tanto o Brasil quanto os EUA estão procurando maneiras de avançar na negociação da Alca", mas não previu uma nova data de implantação do acordo. Dirceu disse que seria uma "temeridade" prever nova data. Dirceu e Rice também conversaram sobre a situação no Haiti, onde o Brasil lidera as tropas de manutenção da paz das Nações Unidas. O ministro diz que o mais importante agora é a liberação de recursos de instituições multilaterais para investimentos e geração de empregos no país. Dirceu reforçou o pleito brasileiro de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, mas não ouviu apoio da secretária. Num ato falho, Dirceu chamou o Conselho da ONU de "Conselho de Segurança Nacional" e brincou dizendo ter ficado traumatizado por sua cassação durante a ditadura militar. Também foi mencionada por Rice a cúpula entre países árabes e da América do Sul. A secretária disse, segundo o ministro, que os EUA vêem a conferência "com bons olhos". Dirceu diz que a conferência representa uma "oportunidade para que os países árabes possam avaliar a importância da democracia no avanço econômico" com a experiência de países da América do Sul que já passaram por ditaduras e hoje são democráticos. Rice não discutiu detalhes da situação da Venezuela, como a preocupação nos EUA sobre a redução das exportações de petróleo para o país ou a compra de armamentos e aviões militares. "A secretária apenas registrou a preocupação com relação ao risco de instabilidade na América do Sul, que poderia afetar o desenvolvimento da região e as relações com os Estados Unidos." Dirceu disse ter mencionado as expectativas de integração econômica regional, e os esforços de mediação do Brasil como a reunião entre os presidentes da Venezuela e Colômbia na fronteira dos dois países, com a participação do Brasil e da Espanha. Brasil e EUA "reiteraram as divergências" em relação a Cuba. Dirceu disse ter falado sobre a opinião brasileira de que maiores relações econômicas com o país contribuiriam para a evolução das relações entre Cuba e os EUA, e Rice insistiu na questão de abuso dos direitos humanos por Fidel Castro.