Título: Volume exportado sobe e déficit comercial cai
Autor: Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2009, Brasil, p. A4

A combinação da crise econômica com a queda do preço do petróleo e o aumento da produção doméstica provocaram neste começo de ano um fenômeno positivo na balança comercial brasileira de petróleo e derivados. O déficit em valores diminuiu 70% e, em volume, se transformou em superávit.

O déficit da balança chegou a US$ 9,18 bilhões em 2008 e registrou média mensal de US$ 765 milhões, valor que em janeiro e fevereiro ficou em apenas US$ 232 milhões (US$ 464 no bimestre), segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento. Em volume, a balança registrou saldo positivo de 533 mil toneladas entre exportações e importações de petróleo e derivados (266,5 mil por mês) no primeiro bimestre, contra déficit de 4,13 milhões de toneladas no ano passado, média mensal negativa de 344,17 milhões.

"A crise econômica vai melhorar os resultados, porque vamos importar menos. A economia deve crescer apenas 1% e teremos uma redução nas compras de produtos mais caros, como óleo leve e diesel. Vamos também exportar a preços menores, mas, no balanço, vamos ter uma melhora no desempenho externo", disse Fábio Silveira, sócio da RC Consultores. Ele estima que em 2009 a balança de petróleo e derivados terá um déficit de US$ 4,5 bilhões, menos da metade do número registrado no ano passado.

Em janeiro e fevereiro deste ano, as exportações exclusivamente de petróleo e derivados (a balança do ministério inclui também gás natural e vendas para navios e aviões de rotas internacionais) somaram US$ 1,154 bilhão, contra US$ 2,072 bilhões no mesmo período do ano passado, refletindo a queda dos preços. Mas em volume, as vendas alcançaram 5,111 milhões de toneladas, contra 3,678 milhões no primeiro bimestre de 2008 (os números de 2008 foram levantados a partir de planilhas que podem ter sofrido ajustes pequenos).

Já as importações, que no primeiro bimestre de 2008 somaram US$ 3,331 bilhões, despencaram para US$ 1,618 bilhão no mesmo período deste ano. Em volume, elas caíram também, passando de 4,906 milhões de toneladas para 4,574 milhões de toneladas. A queda foi maior nos derivados, tendo havido um aumento de 8% nas compras de óleo cru.

Os números estão fortemente influenciados pela queda dos preços. Segundo dados da Energy Information Administration (EIA), o organismo do governo americano que cuida da área energética, o preço médio do petróleo tipo brent (referência para o mercado europeu e brasileiro) caiu de US$ 96,96 no ano passado para US$ 43,4 por barril nos dois primeiros meses deste ano. A queda dos preços do petróleo em meio à crise econômica pode explicar parcialmente o fato de não ter havido aumento das importações, como ocorreu em outros momentos de redução desses preços, de acordo com analistas.

O óleo diesel, produto que mais representa, no consumo de derivados de petróleo, o nível de atividade econômica, caiu 7,7% (em volume) nos dois primeiros meses deste ano, segundo dados do Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), cujos associados respondem por cerca de 75% do abastecimento do país. O consumo de gasolina ficou estável.

"Foi por isso, principalmente, que as importações caíram", aponta o analista Eraldo Porto, da Assessoria Consultores. Para ele, essa queda no diesel demonstra que a queda na atividade econômica foi o fator mais importante para o comportamento da balança de petróleo, embora considere também a hipótese de a Petrobras ter reduzido seus estoques, dado o elevado custo de carregamento, embora haja o risco de prejuízo maior se os preços subirem rapidamente.

Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), são quatro os fatores que contribuem para o quadro de melhoria nos números da balança, começando pela queda do consumo trazida pela crise. O risco de importar hoje a um preço maior do que nas semanas seguintes também pressiona as importações, da mesma forma que a escassez de recursos para financiar estoques elevados. E, finalmente, a entrada em operação de novos equipamentos de produção da Petrobras, elevando a produção doméstica de óleo.

Para Silveira, da RC, 2009 será um ano difícil para a economia brasileira. Ele aponta os setores que vão consumir menos derivados por causa da queda de demanda, listando o setor agrícola e os bens de consumo para a indústria automobilística, têxtil, calçados, eletroeletrônicos duráveis, petroquímica e transformadores de plástico. "O esfriamento da construção civil, que usa tubos de PVC, e o esfriamento da indústria de bens de consumo serão os grandes inibidores da demanda por derivados de petróleo. Sem contar que a redução da massa salarial vai afetar o consumo geral de combustíveis pelas famílias", diz ele.

O diretor de abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, confirma que os números de janeiro e de fevereiro deste ano já mostram retração da demanda, especialmente de diesel, mas nos primeiros dez dias de março, segundo ele, os números já indicam uma recuperação. Em relação ao diesel, ele disse que a queda na importação também está associada a um aumento de aproximadamente 35 mil barris por dia da produção doméstica.

Segundo o executivo, a Petrobras pode voltar a ter saldo físico e financeiro este ano, mesmo com a economia reagindo, desde que não haja necessidade de geração térmica de energia elétrica a diesel, como ocorreu em 2008.

Apesar do déficit oficial, a Petrobras contabiliza números mais favoráveis para sua própria balança comercial. A empresa tem uma metodologia própria de cálculo, cuja principal diferença em relação à do Ministério do Desenvolvimento é que as cargas são computadas no embarque, enquanto o ministério só computa no fechamento da operação.

Segundo Costa, pela metodologia da empresa, que não é mais a única operadora do comércio de petróleo e derivados do país, nos últimos três anos somente em 2008 ele teve déficit em valor (US$ 928 milhões), embora tenha ainda obtido um superávit de 100 mil barris em volume. A empresa fez um esforço de exportação em dezembro, quando enviou 620 mil barris por dia para o exterior.