Título: Aécio Neves dobra cúpula do PSDB
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2009, Política, p. A11

Apesar das últimas articulações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no sentido de uma solução negociada, a direção do PSDB se convenceu de que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, vai mesmo disputar com o governador de São Paulo, José Serra, a indicação do partido à Presidência. A dúvida, agora, é quando se dará a escolha e como serão realizadas as prévias, nos termos delimitados pelo Tribunal Superior Eleitoral. O TSE esteve reunido ontem à noite e havia a expectativa de que julgasse o pedido de prévias da legenda, o que não ocorreu até o encerramento desta edição, às 22h30.

A única possibilidade de a escolha ser feita por acordo é um recuo de Aécio, algo a cada dia mais distante, como demonstram as declarações públicas do governador sobre as prévias. Mas num almoço sigiloso, em Brasília, com o senador Tasso Jereissati (CE) e o presidente nacional do partido, Sérgio Guerra (PE), na última terça-feira, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pediu para Tasso voltar a conversar com Aécio e fazer uma nova tentativa de entendimento. Tasso defendeu a legitimidade do pedido de prévia de Aécio Neves.

A disposição do governador pode ser medida pela agenda que ele programou para esta segunda-feira, 16: Aécio vai ao Recife, capital de Pernambuco, terra do presidente nacional do PSDB. O pretexto para a viagem é o lançamento de um livro do ex-ministro da Justiça Fernando Lyra (governo José Sarney) sobre Tancredo Neves, avô do governador mineiro. Mas Aécio também pediu para Guerra um encontro específico com a comunidade tucana do Estado.

Será a avant-première da programação de viagens que o governador pretende cumprir por todo o país, a partir de agora, para difundir sua pré-candidatura e tentar reverter o favoritismo de José Serra no PSDB. Quando pediu para Guerra organizar o encontro, Aécio não mencionou eventuais aliados, como o Democratas - ele quer falar especificamente ao colégio eleitoral que vai escolher o candidato tucano a presidente, em 2010.

Muito embora Serra tenha assumido o compromisso com as prévias, seus aliados, como FHC, continuam achando que a primária é um erro. Divide. O argumento é que o PSDB já tem em Serra um nome que é primeiro nas pesquisas de opinião, experiente e bem articulado nacionalmente, qualidades que todo partido exige para um candidato. Ou seja, já dispõe de uma "candidatura pronta".

E a avaliação entre tucanos é que Aécio só conseguirá reverter esse quadro atual se "desconstruir" a "candidatura pronta" de José Serra, como dizem os correligionários do governador de São Paulo. Uma disputa nesse nível, dizem os aliados de Serra, serviria apenas para criar um ambiente no partido no qual o maior adversário é interno e não o governo atual, o "verdadeiro inimigo" a ser derrotado em 2010.

Os tucanos também estão divididos sobre quando deve-se dar a escolha do candidato. FHC, Sérgio Guerra e Tasso Jereissati gostariam de uma decisão rápida. Isso levaria os tucanos a ultrapassar a agenda negativa da divisão e também aproveitar para divulgar o nome de seu candidato no programa e nas inserções partidárias na TV no meio do ano.

Por motivos diferentes, Serra e Aécio querem ganhar tempo. Serra acha que a decisão deve ocorrer só no próximo ano. Declarando-se desde já candidato, o governador teme virar vidraça em São Paulo. Seus aliados imaginam que ele será um alvo fácil para a oposição, se houver uma crise na polícia paulista, como a que ocorreu recentemente, e o governador estiver ausente do Estado, em disputa eleitoral com Aécio, por exemplo.

Já Aécio quer ganhar tempo para mostrar aos militantes do PSDB as pesquisas qualitativas que já mostrou à direção partidária. Segundo esses pesquisas, o eleitorado acha que o governador de Minas reúne todos os atributos para ser presidente da República. E tem potencial de crescimento. Precisaria apenas se tornar mais conhecido nacionalmente.

Aécio, segundo apurou o Valor no PSDB, quer que as prévias sejam regulamentadas logo. E que também comecem a ser realizadas o mais rapidamente possível. O governador, no entanto, aceita que, feita a regulamentação, a consulta aos tucanos seja feita a partir do final desde ano ou do início de 2010.

A ênfase do governador de Minas na regulamentação tem explicação: o prazo para a filiação partidária dos candidatos às eleições de 2010 vai até o próximo dia 3 de outubro, ou seja, um ano antes da eleição, de acordo com a atual legislação eleitoral. E embora a cúpula do PSDB descarte inteiramente a hipótese de Aécio mudar de partido, no PMDB, no PT e entre aecistas se afirma que este não é assunto "esgotado".

Aécio também não quer a realização de prévia apenas num dia, mas ao longo de um determinado período, no qual se fariam eleições regionais ou estaduais, como ocorre nos EUA. É a estratégia de ganhar tempo para tentar convencer o eleitorado do PSDB que ele é um candidato com mais chances de vencer as eleições do que José Serra.

Os aliados de Serra, por seu turno, se tiverem de disputar a prévia preferem que elas sejam feitas no próximo ano, rapidamente, fiéis à ideia de que Serra não pode descuidar do governo de São Paulo e abrir um flanco que será explorado pela oposição.

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