Título: Congresso adia definição sobre requerimentos contra Lula
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2005, Política, p. A8

Os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Severino Cavalcanti, evitam tomar decisões sobre os pedidos da oposição para esclarecer o teor das declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no último dia 24, em discurso no Espírito Santo. Lula sinalizou que um alto funcionário do seu governo tinha descoberto corrupção no processo de privatização das teles, e que ele o orientou a não divulgar o fato. Ontem, Severino disse que analisaria o pedido do PSDB para abertura de processo contra Lula por crime de responsabilidade. O presidente da Câmara tinha sinalizado que poderia divulgar uma decisão nesta semana, mas foi aconselhado por colegas a esperar a reforma ministerial de Lula. "Vou analisar hoje (ontem) à tarde", avisou. "Não tem resposta não, porque eu tenho que analisar, tenho que botar meus assessores para funcionar", explicou. No Senado, estão em banho-maria os dois requerimentos convocando o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, a dar esclarecimentos sobre as declarações de Lula e dele próprio. Em defesa do presidente, Dirceu reagiu às críticas e cobranças da oposição, dizendo que "o feitiço poderia virar contra o feiticeiro". Os requerimentos foram apresentados pelos senadores Jefferson Péres (PDT-AM) e Antero Paes de Barros (PSDB-MT). Os dois não tiveram despacho da Mesa Diretora do Senado. Renan Calheiros disse ontem que vai "compatibilizar" a tramitação desses requerimentos com todos os outros que já foram protocolados na Mesa. "Compatibilizar significa que os requerimentos que têm prioridade e precedência vão tramitar", explicou o senador. Isso significa que Renan pode colocar em votação todos os requerimentos apresentados antes do pedido de convocação de Dirceu, o que daria tempo suficiente para a poeira baixar. As razões que movem Severino e Renan são distintas. O presidente do Senado age como aliado, para evitar desgastes ao presidente Lula. "É importante baixar um pouco essa temperatura", reiterou o senador, que tem conversado com líderes da oposição na tentativa de amenizar a reação contra Lula. Já Severino estaria adiando uma decisão de olho na reforma ministerial, apesar de os parlamentares do PP negarem qualquer forma de pressão ao presidente Lula. "O PP não quer nenhum ministério. Quem quer o PP no ministério é o governo", afirmou o líder do partido na Câmara, José Janene (PR). (MLD)