Título: Americanos levam adiante processo contra suco brasileiro
Autor: Assis Moreira, Mauro Zanatta e Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2005, Especial, p. A12

A International Trade Commission (ITC), órgão do governo americano que determina medidas antidumping, votou nesta quinta-feira pela continuidade das investigações contra as exportações de suco de laranja brasileiro. Para a ITC, há "indicação de dano" aos produtores dos EUA. As vendas brasileiras já são submetidas a elevadas tarifas desde 1987, mas indústrias daquele país querem um novo processo porque no anterior algumas exportadoras conseguiram escapar da trava existente. Os resultados da investigação e as tarifas serão determinadas pelo Departamento do Comércio e pela ITC no fim deste mês. Se o dumping for constatado, as tarifas passam a valer retroativamente a partir de 27 de dezembro de 2004. A indústria americana de suco é formada por 14 companhias e emprega 3,5 mil pessoas, a maior parte na Flórida. As importações de suco brasileiro corresponderam a 15% da produção total dos EUA na última safra. O grupo de empresas liderado pela Florida Citrus Mutual pede tarifa de 77,7% para o suco pasteurizado (não concentrado) e 37,3% para o suco congelado e concentrado para manufatura posterior. São alvo da ação as empresas brasileiras Cutrale, Citrosuco e Coinbra, esta última controlada pelo francês Louis Dreyfus. A operação brasileira de suco da americana Cargill também estava na mira, mas a empresa vendeu seus ativos no setor para Cutrale e Citrosuco no ano passado. "O sistema antidumping americano é objetivo de permanente discussão na OMC, que o desaprova. Seria esperar muito que a ITC não levasse adiante a investigação contra o Brasil", afirmou Ademerval Garcia, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos (Abecitrus). "O mercado americano para o suco está encolhendo, entre outras razões devido à disseminação de dietas que condenam seu consumo. E eles, como sempre, culpam o Brasil pelas consequências disso", afirmou ele. Garcia lembrou que a citricultura brasileira cresceu 30% nos últimos dez anos, e que hoje as exportações para a Ásia representam mais ou menos o mesmo volume das vendas para os Estados Unidos. "Nossa citricultura é global e continuamos abrindo novos mercados. A deles, concentrada da Flórida, é local. E, aqui, temos problemas mais importantes para resolver, como o combate a doenças que afetam os pomares paulistas". A criação de uma agenda comum com os EUA para ampliar mercados, de acordo com Garcia, ficou praticamente inviável. (TB, com Fernando Lopes, de São Paulo)