Título: Teles só crescem com reajustes
Autor: Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2005, Empresas &, p. B3

A recuperação da economia brasileira em 2004 passou ao largo das empresas de telefonia fixa - setor que enfrenta uma fase de grandes mudanças tecnológicas. Os balanços das concessionárias de telefonia local (Telefônica, Telemar e Brasil Telecom) mostram aumento no lucro operacional. Porém, a melhora deveu-se quase totalmente ao reajuste de tarifas e não à expansão dos negócios. No quarto trimestre de 2004, as três operadoras apresentaram, juntas, lucro líquido de R$ 1 bilhão. O número representa crescimento de 0,8% frente a igual período do ano anterior. O cálculo foi feito pelo Valor Data com base nas demonstrações financeiras. Apenas a Telesp, da Telefônica, divulgou o balanço auditado. A Telemar foi a única a ter lucro menor no último trimestre, mas obteve melhora nos indicadores operacionais. Ao longo de todo o ano passado, todas conseguiram ganhos mais robustos. (ver texto abaixo) O lucro da atividade (antes de juros e impostos) aumentou 31%, para R$ 2,1 bilhões nos três meses encerrados em dezembro. A receita líquida somada das concessionárias foi de R$ 10,2 bilhões entre outubro e dezembro. O crescimento foi de 14%, em linha com o reajuste de tarifas praticado em 2004. Além do aumento regular, as teles tiveram no ano passado a compensação pelo reajuste de 2003, quando o governo usou como indexador o IPCA em vez do IGP-DI. O tráfego de chamadas locais - que, esperavam alguns analistas, aumentaria com o aquecimento econômico - ficou estável ou caiu ao longo do ano passado. Somente no quarto trimestre a Telefônica teve queda de 5,4% nos chamados pulsos excedentes (aqueles que são faturados pelas empresas), em relação aos três meses anteriores. "A telefonia fixa não cresce mais. Os resultados são por causa do reajuste das tarifas", diz o analista do Unibanco Edigimar Maximiliano. Analistas ouvidos pelo Valor citam algumas razões para a queda no tráfego. A principal delas é que os consumidores estão trocando o telefone fixo pelo celular para fazer ligações. A linha fixa também está sendo substituída pela banda larga para o acesso à internet, algo que reduz o volume de tráfego mas melhora a margem das empresas. E, paralelamente, a recuperação da economia até agora não resultou em melhora significativa da renda familiar. "Não há expectativa de melhora. A tendência é de queda no tráfego local para todas as empresas", diz Roger Oey, analista do Banif. O segmento de banda larga foi onde as teles conseguiram crescer de maneira relevante. A Telemar mais que dobrou sua base de clientes de internet em alta velocidade em 2004, para 496 mil acessos. Na Telefônica, a expansão foi de 70% e, na Brasil Telecom, de 90%. Porém, a atividade ainda representa menos de 5% do faturamento do setor. Ao contrário do que aconteceu nas ligações locais, dados divulgados pelas empresas indicam que houve aumento no tráfego de longa distância. Nesse mercado, as teles fixas avançaram no território antes dominado pela Embratel. A operadora, controlada pela Telmex, amargou queda de receita e teve prejuízo de R$ 339 milhões em 2004 (R$ 213 milhões apenas no quarto trimestre). Foi o pior desempenho dentre as concessionárias de telefonia do país, que tiveram origem no modelo estatal. Para contornar as dificuldades, a Embratel quer fazer o caminho inverso e crescer na telefonia local. "A longa distância é muito competitiva", justificou o presidente da operadora, Carlos Henrique Moreira, ao divulgar o balanço. Os serviços de telefonia local são os que geram margens mais elevadas no setor. No entanto, a estagnação tem levado as teles a buscar a diversificação de seus negócios, mesmo que isso implique sacrificar a rentabilidade inicialmente. A Telemar é dona da Oi, empresa de celular que prevê dar lucro apenas em 2006. "Estamos crescendo em produtos com margem menor que o serviço tradicional de telefonia", diz o diretor de relações com investidores da Telemar, Marcos Grodetzky. A Brasil Telecom criou sua divisão de telefonia móvel no ano passado e já avisou que isso terá um impacto de seis pontos percentuais em sua margem operacional (medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações) em 2005.