Título: Grandes consumidores de aço devem começar a negociar preço com usinas
Autor: Francisco Góes, Ivana Moreira, Marli Olmos e Raque
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2005, Brasil, p. A2

A decisão do governo de baixar a zero a tarifa de importação de 15 produtos siderúrgicos não trará impactos para a balança comercial, mas pode ajudar a segurar a inflação. Os grandes consumidores de aço pretendem usar a medida para negociar preços com as usinas. Avaliações preliminares de consultorias e de empresários do setor indicam que a operação de importar aço de outros continentes não seria vantajosa, mesmo com o fim das alíquotas. A medida adotada pelo governo fez a Tendências Consultoria Integrada rever sua projeção para a inflação nos preços de produtos metalúrgicos. Antes, a consultoria esperava uma variação de 14% para o grupo metalurgia no Índice de Preços ao Atacado (IPA). Agora a consultoria acredita em uma alta de 9,5%. Isso foi possível devido à redução de 22% para 10% na expectativa de alta nos preços de laminados planos e de 15% para 10% na previsão de aumento das placas de aço. A consultoria, porém, permanece com a projeção de elevação de 9% nos preços domésticos de laminados longos. As entrelinhas dos discursos dos dirigentes da indústria automobilística deixam evidente que a possibilidade de importar o produto livre de impostos será usada pelo setor muito mais como instrumento para negociar com as siderúrgicas locais do que efetivamente como estratégia de compras. Oficialmente, os fabricantes de veículos dizem que vão analisar os custos da importação. Segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb, a princípio, a importação pode ser vantajosa para alguns tipos de aço. O diretor de assuntos corporativos da Fiat, José Eduardo Pereira Lima, apóia a medida. "O que importa é pagar o menor preço com preferência pela qualidade." Golfarb lembra que mesmo sem o custo das alíquotas de importação, que oscilavam entre 12% e 14%, é preciso levar em conta o custo do transporte, que absorve outros cerca de 15%. Golfarb também demonstra preocupação em relação ao efeito mundial do recente aumento do preço de 71,5% no minério de ferro pela Vale do Rio Doce. O economista Fernando Fenolio, da Rosenberg & Associados, calcula que o reajuste do minério de ferro irá representar aumento de 9,3% no aço, uma vez que para as siderúrgicas a alta de custos deve ficar em 13%, na média. Com isso, o impacto sobre o IPA será de 0,88 ponto percentual ao longo do ano, o que trará mais 0,58 ponto percentual ao Índice Geral de Preços (IGP), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Grandes fabricantes de aço consideraram injusta a decisão da Câmara de Comércio Exterior (Camex) de zerar a alíquota de importação de alguns tipos de aço. "A medida é injusta porque o mercado interno está abastecido", diz o presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares. A Usiminas é a segunda maior fabricante de aços planos do país. Campos Soares observa que setores como o automobilístico registraram aumento nas exportações. O que comprova, segundo ele, a competitividade dos aço nacional. A avaliação dos principais executivos das siderúrgicas é de que a decisão da Camex trará pouco efeito prático porque, mesmo sem o imposto, siderúrgicas de outros países não conseguirão colocar o produto com preço competitivo no mercado interno por causa dos custos de frete. "É uma medida de efeito demonstrativo", diz Marta Lassance, presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Para ela, a decisão foi apenas uma resposta para a pressão das indústrias, especialmente a automobilística. Mas fonte empresarial do setor siderúrgico acredita que as empresas que ainda pensavam em reajustar os preços devem reavaliar seus planos. Especialista ouvido pelo Valor avaliou que a eliminação das alíquotas de importação sobre o aço importado busca ter um efeito "preventivo" em relação aos futuros aumentos de preço dos produtos siderúrgicos. Já o analista Luiz Caetano, do Banco Brascan, afirma que a supressão das tarifas não irá reduzir os preços do aço. Os preços internos estão em linha com os do mercado internacional, compara.