Título: Demanda externa impulsiona exportação e compensa câmbio
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2005, Brasil, p. A3
As exportações continuam crescendo a taxas muito significativas, apesar da valorização do câmbio nos últimos meses. Em janeiro e fevereiro, o grande destaque foram as vendas externas de manufaturados. No período, as exportações aumentaram US$ 3,7 bilhões em relação a janeiro e fevereiro de 2004, e 75% do crescimento se deveu às vendas desses produtos. A expansão da economia global, que ainda não desacelerou de forma expressiva, é o principal motivo apontado pelos analistas para explicar o desempenho. As vendas externas dos manufaturados, como mostra um estudo da MB Associados, são mais afetadas pela demanda externa do que pelo câmbio. Além disso, o resultado do saldo comercial corrente reflete em grande parte contratos fechados quando o dólar estava mais caro. O desempenho das exportações em janeiro havia sido bastante positivo, mas o resultado de fevereiro foi ainda mais surpreendente. As vendas externas cresceram 35,5% em relação ao mesmo mês do ano anterior, com expansão significativa de todos os produtos. As exportações de manufaturados aumentaram 44,8%, as de semimanufaturados, 39%, e as de básicos, 15%. O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, ressalta a importância do forte crescimento da economia global para o desempenho dos manufaturados. Segundo ele, a desaceleração que se anunciava ainda não se manifestou, pelo menos na intensidade que se imaginava. A estimativa de crescimento neste ano do grupo formado por EUA, União Européia, Argentina e China, grandes parceiros comerciais do Brasil, subiu de 3,65% para 3,9%, afirma ele. É um número abaixo dos 4,8% do ano passado, mas ainda assim um resultado significativo. A MB Associados fez um estudo que mostra a maior sensibilidade das exportações de manufaturados à demanda externa do que ao câmbio. O aumento de 1% da demanda externa provoca um crescimento de 3,46% nas vendas desses produtos, enquanto um avanço de 1% do câmbio leva a uma expansão de 0,48% das exportações de manufaturados. "Com a demanda externa forte, é natural que haja exportações significativas de manufaturados", afirma o economista Sérgio Vale, da MB Associados, autor do estudo em parceria com a economista Mônica Baer. Os produtos básicos, por sua vez, reagem menos intensamente ao crescimento global: a cada 1% de expansão externa, as vendas de básicos crescem 2,68%. O economista Frederico Estrella, da Tendências Consultoria Integrada, é outro que ressalta a importância da demanda externa para as exportações dos produtos manufaturados. Como segue em ritmo significativo, isso ameniza o impacto da valorização do câmbio, segundo ele. Barros nota que boa parte das atuais exportações de manufaturados foi contratada em 2004, quando o dólar estava mais alto. Além disso, ele avalia que a decisão de vender no exterior depende de vários fatores além do câmbio. A exportação faz parte hoje da estratégia de muitas empresas, que não querem perder mercados arduamente conquistados, afirma Barros. Segundo ele, o dólar barato pode afetar mais pequenas empresas que começaram a vender no exterior há pouco tempo, mas não deve fazer com que grandes companhias deixem de exportar. Alguns analistas, porém, afirmam que o cenário positivo para as vendas externas não deve durar para sempre. O dólar barato deve ter impacto negativo em algum momento. Vale acredita que o câmbio começa a fazer efeito sobre as exportações num prazo de 6 a 12 meses, o que significa que elas seriam mais afetadas a partir do segundo semestre deste ano. Os maiores problemas deveriam ocorrer em 2006. Mas isso não deve impedir que o saldo comercial neste ano seja bastante significativo. Ele lembra que o aumento dos preços do minério de ferro deve levar a um crescimento de US$ 3,4 bilhões das vendas do produto, o que o fez aumentar sua projeção para o saldo comercial deste ano de US$ 27 bilhões para US$ 30 bilhões. Vale afirma ainda que, embora a economia global não tenha quase se desacelerado, isso deve ocorrer ao longo do ano. Com isso, a demanda por produtos brasileiros deve diminuir. Vale se mostra preocupado principalmente devido à importância das exportações para o crescimento da economia. O relatório da MB Associados nota que, por causa do peso que as exportações de produtos manufaturados passaram a ter para a indústria desde 2001, "a redução de seu ritmo de expansão pode prejudicar o crescimento da produção industrial como um todo".