Título: Modelo aecista de prévia extrapola PSDB
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Fonte: Valor Econômico, 17/03/2009, Política, p. A6

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve se posicionar esta semana sobre as prévias tucanas. O modelo imaginado pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), caso aprovadas pela Justiça Eleitoral , teria um caráter inédito no país. Para que se tornem factíveis, além de vencer a resistência política do grupo tucano que apoia a candidatura do governador paulista, José Serra, à Presidência, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) precisará ser convencido de que o evento não caracterizaria uma antecipação da propaganda eleitoral.

O assunto está sendo conduzido dentro do PSDB por uma comissão tripartite formada pelo secretário-geral da sigla, o deputado federal mineiro e aecista Rodrigo de Castro, pelo ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência Eduardo Jorge e pelo deputado federal Luiz Paulo Vellozo Lucas (ES), ligado a Serra. Segundo Castro, a consulta encaminhada pelos tucanos ao TSE no ano passado irá nortear o formato que o partido dará à consulta. O modelo mais ambicioso, e desejado pelos mineiros, envolve consulta aos não-filiados da sigla.

Esta consulta obrigará os pré-candidatos a fazer propaganda, além de debates públicos, o que acarreta custos que estão acima dos disponíveis no fundo partidário do PSDB. O partido precisaria assim arrecadar recursos junto a financiadores privados. "Queremos algo diferente. Buscamos um modelo o mais envolvente e amplo possível", disse Castro.

Na hipótese de a Justiça Eleitoral entender que este modelo caracteriza campanha presidencial antecipada, o partido teria que adotar modelo de prévia semelhante ao já testado pelo PT e pelo PMDB: consulta restrita a filiados, debates internos, ausência de propaganda e custos bancados com recursos próprios. "A prévia no modelo restrito continua interessante, porque ainda assim permite a democratização na escolha dos candidatos", disse Castro.

O modelo amplo de prévias encontra paralelo a consultas já realizadas na Argentina, no México e nos Estados Unidos. No caso argentino, as prévias eram tradicionais dentro do peronismo até a crise de 2001, que fez com que o partido perdesse a unidade, em um primeiro momento, e ganhasse uma hegemonia do casal formado pela presidente Cristina Kirchner e pelo ex-presidente Néstor Kirchner. No México, uma eleição prévia foi feita dentro da frente oposicionista ao PRI, em 2000. Mas divergências fizeram com que o resultado não fosse respeitado e a oposição se apresentasse dividida nas urnas. Nos Estados Unidos, as eleições primárias tanto entre republicanos quanto democratas já são um modelo institucionalizado. Um estudo comparativo dos vários casos internacionais foi feito dentro do PSDB pelo cientista político e marqueteiro Antonio Lavareda.

Partido com 20 anos de história, o PSDB tem uma tradição de escolha do candidato presidencial por meio de acordos de cúpulas, o que ocorreu nas cinco eleições que a sigla disputou. Mesmo regionalmente, a consulta a filiados nunca foi feita. O partido não faz consultas nem mesmo para escolher suas direções locais. Daí a dificuldade de medir se a hegemonia que atualmente Serra exerce sobre a cúpula do partido se projeta para suas bases.