Título: Grupo de Sarney atribui denúncias a petistas do MA
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2009, Política, p. A9

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e seus aliados dizem estar convencidos que a onda de denúncias publicadas diariamente pela imprensa resulta de uma "campanha para desestabilizar" sua gestão no comando da Casa, alimentada por adversários políticos - especialmente o PT do Maranhão.

A avaliação tem sido feita pelo próprio Sarney em conversas com senadores ligados a ele. Além da oposição feita pelo PT maranhense contra a família Sarney, aliados do pemedebista citam o fato de ele ter disputado a presidência do Senado contra o petista Tião Viana (AC). "Eu quero crer que esse é um rescaldo da disputa pela presidência do Senado. É um terceiro turno", afirmou o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), primeiro-secretário da Casa.

Ontem, Sarney e Heráclito passaram o dia administrando as denúncias do fim de semana, uma delas envolvendo a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), líder do governo no Congresso. Segundo reportagem do site "Congresso em Foco", a senadora teria usado a cota de passagens áreas do seu gabinete para pagar a viagem de sete pessoas de São Luís a Brasília (ida e volta) no fim de semana anterior. Seriam amigos, parentes e empresários.

A senadora afirmou que nenhuma das pessoas citadas pela reportagem do "Congresso em Foco" utilizou a cota das passagens aéreas do seu gabinete. Mas, sem divulgar os nomes, a assessoria de Roseana confirmou que ela recebeu em Brasília seis pessoas do Maranhão, sendo que quatro delas teriam se hospedado na residência oficial da presidência do Senado.

De acordo com o primeiro-secretário da Casa, não há ilegalidade no caso. Ele criticou a onda de denúncias contra o Senado e não escondeu certa irritação em estar diariamente tratando de acusações envolvendo funcionários ou senadores. "Daqui a pouco está na hora de fechar o Congresso", disse. Em relação às passagens, Heráclito disse que cada senadores é responsável pelo uso da cota devida.

O ato 62, de 1988, da Comissão Diretora do Senado, diz que cada senador tem direito a cinco bilhetes de passagem por mês - quatro deles referente ao trecho Brasília à capital do seu Estado de origem (sendo uma dessas passando pelo Rio de Janeiro) e a quinta só de Brasília ao Rio de Janeiro. O ato, no entanto, não deixa claro se as passagens são de uso exclusivo do parlamentar.

A outra notícia que atingiu a já desgastada imagem do Senado no fim de semana foi publicada pelo jornal "O Globo". Segundo a reportagem, empresas que prestam serviço para o arquivo e para a Secretaria Especial de Informática do Senado (Prodasen) contratam parentes de diretores da Casa, como forma de burlar a proibição legal. Heráclito Fortes reagiu ao "nepotismo cruzado".

Após conversar com Sarney, Heráclito anunciou que os "casos concretos" de servidores envolvidos serão afastados do Senado nos próximos dias. Além disso, será feito um cruzamento entre a relação de terceirizados e a de funcionários da Casa para verificação de outros casos.

Heráclito tratou ontem de denúncia anterior, sobre o pagamento de horas extras aos funcionários do Senado no mês de janeiro, quando os senadores estavam de recesso. Ele divulgou ontem portaria assinada por ele instituindo controle de horário extraordinário dos servidores, a partir das 18h30. Mas não se trata de ponto eletrônico, como havia anunciado Sarney. Na prática, a portaria nada muda. "Estou me sentindo barqueiro de canoa de pobre: toda hora tenho que tapar um buraco", disse.