Título: Produção de mamão volta a crescer e mira mercado americano
Autor: Cibelle Bouças e Patrick Cruz
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2005, Empresas &, p. B9

Os produtores de mamão prevêem a retomada do crescimento da oferta brasileira neste ano, sustentada pelo aumento dos preços no mercado interno e com a perspectiva de que os Estados Unidos liberem neste ano as compras da fruta da Bahia e no Rio Grande do Norte, dois dos principais pólos produtivos do país. Atualmente, o Espírito Santo é o único Estado autorizado a exportar para os americanos. Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea/Esalq), o preço pago ao produtor no Espírito Santo em fevereiro foi de R$ 0,60 por quilo, 62% acima do praticado em igual mês de 2004. No ano passado, a fruta subiu 101% com a produção menor, devido às perdas com chuvas na Bahia e no Espírito Santo e à queda de 17% na área plantada nesses pólos (21,9 mil hectares) devido aos preços baixos de 2003. O Instituto de Pesquisa Capixaba (Incaper) estima que houve perda inferior a 10% na produção do Espírito Santo em 2004 - para 611 mil toneladas. David Martins, do Incaper, aposta na recuperação da cultura em 2005, mas não tem estimativa fechada. "Os preços estão estimulando a produção", diz. Na Bahia, segundo a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), houve redução de 26% na produção em 2004, para 600 mil toneladas. Altino Machado Filho, gerente de pesquisa da EBDA, diz que os preços em alta estão estimulando o aumento da produção. Ele projeta aumento da área de 10 mil para 10,5 mil hectares em 2005, com produção entre 650 mil e 700 mil toneladas. "O mamão está reagindo na Bahia". Com isso, a Fazenda Palmares, de Itabela (BA), deverá ampliar em 10% sua área com a cultura neste ano, para 220 hectares. "O mercado está mostrando que vai haver, no mínimo, estabilidade em relação ao ano passado", diz Edison Lepore Gonsalez, sócio da Palmares. Na Fazenda Lembrança, de Eunápolis (BA), que planta 120 hectares da fruta, a expectativa para este ano é de "voltar a alcançar entre 60% e 70% do potencial de produção", segundo o produtor Lindomar Lembranci. Ele afirma que a produção da fazenda, que já chegou a 170 toneladas por semana, deve atingir, neste ano, a média semanal de 100 toneladas. Um impulso extra à cultura é a possibilidade de os EUA aprovarem neste ano os embarques da Bahia e Rio Grande do Norte. Produtores baianos já se adequaram às exigências hoje feitas aos capixabas, como o monitoramento do mosaico e da mosca-da-fruta. Produtores e EBDA formaram uma comissão para dedicar 4 mil hectares da produção à exportação. Gilson Cosenza, assessor para assuntos internacionais da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, observa que, em setembro de 2004, o governo americano decidiu aceitar a fruta produzida na Bahia e no Rio Grande do Norte, e tem até novembro para definir as regras de importação. A abertura dos EUA ao Espírito Santo em 1998 fez os embarques do Estado crescerem 224% nos últimos seis anos, segundo a Secex. Em 2004, as vendas ao país caíram 35%, para US$ 4,086 milhões, devido à má qualidade do papaya capixaba. A queda foi compensada pelo incremento de 35,6% nas vendas para a União Européia, para US$ 20,743 milhões, que passou a importar mamão formosa. Em 2004, os embarques brasileiros caíram 9%, para US$ 26,563 milhões. Angela Rocha, diretora-executiva da Associação Brasileira dos Exportadores de Papaya (Brapex) - que reúne empresas responsáveis por 80,5% da exportação brasileira -, estima recuperação dos embarques neste ano com o aumento da produção e a abertura de novos mercados, enquanto Georgina Caliman Azevedo, gerente comercial da Caliman Agrícola, que atua no Espírito Santo e no Rio Grande do Norte, espera manter o nível de exportação de 2004, de 7,26 mil toneladas. Francisco Vidolin, sócio gerente da Frutas Solo Ltda, de Linhares (ES), diz que suas vendas baixaram 25% em janeiro por falta de frutas com alta qualidade. "É provável que a exportação neste ano seja menor, em função da oferta e da queda do dólar sobre o real", diz Vidolin. Em 2004, a empresa exportou 2.275 toneladas.