Título: Setor privado pede ao G-20 regra para evitar alta de tarifas
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 19/03/2009, Brasil, p. A4

A fragilidade do sistema financeiro mundial e a falta de respostas por parte dos governos travaram os negócios e são uma das maiores preocupações dos empresários dos países do G-20, o grupo das economias mais influentes no mundo, disseram representantes do setor privado ao primeiro-ministro da Inglaterra, Gordon Brown. Eles também ficaram chocados com um estudo do Banco Mundial segundo o qual, poucos meses após firmarem a compromisso de abdicarem de qualquer medida protecionista em resposta à crise mundial, 17 dos 20 governos do grupo deverão patrocinar novas barreiras ao comércio.

Gordon Brown reuniu os empresários em sua residência, em Londres, para saber as expectativas do setor privado em relação ao encontro do G-20, na capital inglesa, em 2 de abril. Ouvidos por mais cinco ministros britânicos, os empresários mostraram ser geral a desconfiança sobre a solidez do sistema bancário internacional. "Não era um dos temas da reunião, mas, liderado pelo representante da França, houve um pedido para se tratar também da preocupação com a situação do sistema financeiro", relatou o representante brasileiro, Carlos Mariani Bittencourt.

"Há conversas sobre estatização, dificuldades na retomada do crédito, situação difícil nos bancos centrais", diz Mariani. "Os empresários pediram que o G-20 tome medidas urgentes para restabelecer a confiança no sistema bancário", comentou o empresário, representante da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Investimentos, comércio, decisões, tem muita coisa paralisada por não ter partido dos governos, até agora, uma atitude que gere confiança nas instituições financeiras", diz a gerente-executiva de negociações Internacionais da CNI, Soraya Rosar, que ajudou a elaborar o documento levado a Londres com as conclusões dos empresários.

Segundo o Banco Mundial, só Japão, África do Sul e Arábia Saudita não criaram ou aumentaram barreiras comerciais neste ano. Contra a escalada do protecionismo, uma das prioridades levadas pela CNI ao encontro com Brown, os empresários defendem a criação de mecanismos para impedir qualquer aumento nas tarifas de importação. Houve sugestões para assinatura de um acordo de proibição de novas medidas protecionistas, mesmo as admitidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC), e de uma comissão de monitoramento, com o fortalecimento da capacidade de vigilância da instituição.

A CNI destacou também, como prioridade, o estabelecimento de mecanismos entre os países do

G-20 para facilitar o financiamento ao comércio. E sugeriu que, em lugar de apenas manifestar a intenção de avançar com as negociações de liberalização comercial na OMC, os países se comprometam com um acordo ainda neste ano sobre as modalidades de negociação, as fórmulas para derrubada das barreiras comerciais.

A CNI e os outros representantes do setor privado do G-20 defenderam a formação de um grupo de trabalho com delegados da OMC, do Banco Mundial e do FMI para criar mecanismos de vigilância e controle das medidas de restrição ao comércio e promoção de investimentos, de forma a evitar o aumento do protecionismo. Brown disse ser a primeira vez que empresários são consultados antes de reunião com os chefes de Estado para apresentarem propostas para o encontro de 2 de abril.