Título: Senadores do PT e PMDB obedecem a Lula e selam trégua
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2009, Política, p. A6

Em cumprimento à orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PT e PMDB fizeram acordo para suspensão das hostilidades no Senado - acirradas com a disputa pela presidência da Casa - numa tentativa de mostrar unidade da base governista e barrar a escalada de denúncias que atingem senadores das duas legendas.

A trégua foi formalizada em jantar num restaurante de Brasília, na quarta-feira - cenário de queixas e mágoas -, que reuniu o ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), os líderes do PMDB, Renan Calheiros (AL), do PT, Aloizio Mercadante (SP), do PTB, Gim Argello (DF), e do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), além da ex-líder do PT Ideli Salvatti (SC).

O encontro foi acertado entre Jucá e Múcio. A avaliação era que a animosidade crescente entre petistas e pemedebistas alimenta a escalada de denúncias contra o Senado. Criou-se um clima na Casa em que um senador atingido passa a responsabilizar desafetos da própria base pelo vazamento da informação.

O jantar foi marcado por reclamações de Renan e Mercadante. Ex-presidente do Senado que renunciou ao cargo em 2007, quando sofreu processos por quebra de decoro parlamentar, o líder do PMDB revelou mágoas em relação ao comportamento do PT no episódio. Disse ter sido "massacrado". Mercadante, por sua vez, queixou-se da articulação de Renan para eleger o senador Fernando Collor (PTB-AL) presidente da Comissão de Infraestrutura, derrotando Ideli.

Múcio também foi criticado pelos petistas por ter atuado a favor de Collor, que é do seu partido. O líder do PTB, Gim Argello, foi repreendido no jantar por supostamente fazer comentários no Senado, até com a imprensa, com insinuações contra Viana.

O grupo comprometeu-se a tentar restabelecer a relação de cordialidade. A estratégia é tentar elaborar uma pauta coletiva que os líderes da base pretendem apresentar a Sarney na terça-feira. Ficou definido que os aliados não alimentarão denúncias. A conclusão é que isso atinge a base e o governo.

A disposição de entendimento foi sentida ontem. Depois de conversar com Jucá e Mercadante, o senador Tião Viana (PT-AC) baixou o tom do discurso que fez ontem. O petista havia sinalizado disposição de atacar o grupo do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) - com quem disputou o cargo, em 2 de fevereiro. Seria um contra-ataque a denúncias cujo vazamento ele atribuía ao comando da Casa (empréstimo de celular do Senado para a filha usar em viagem ao exterior e supostas despesas médicas altas, pagas pela Casa). Viana subiu à tribuna, fez um desabafo, mas limitou-se a divulgar seus extratos com os gastos com saúde e a desafiar os colegas a fazer o mesmo.

"Não vou me reportar àquilo que já tratei e não vou cair na provocação das acusações anônimas, dos denunciantes anônimos, para fazer disso, pelo menos neste momento, uma guerra fratricida, política, dentro da Casa. Não me interessa este caminho", disse.

O líder do PMDB fez questão de manifestar apoio, mesmo tendo chegado depois do pronunciamento. "O Senado não pode manter no seu dia-a-dia um tema que lhe causa dificuldades todos os dias. Precisamos dar de uma vez por todas as respostas que precisamos dar. Queria, senador Tião Viana, dizer da minha disposição. Quero colaborar. O PMDB quer colaborar", afirmou.