Título: Telefónica prevê forte crescimento com operação na AL
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Fonte: Valor Econômico, 20/03/2009, Empresas, p. B2
A América Latina deverá continuar sendo o motor do crescimento da Telefónica em 2009, apesar dos crescentes sinais de uma desaceleração econômica profunda no continente, disse ontem Julio Liñares, o diretor operacional da companhia de telecomunicações da Espanha.
Num esforço para tranquilizar os investidores, Liñares disse que a Telefónica acredita que suas amplas operações latino-americanas vão gerar um crescimento de dois dígitos na receita este ano.
Ele também disse que a Telefónica, o terceiro maior grupo de telecomunicações do mundo em valor de mercado, identificou oportunidades significativas de corte de custos, especialmente na Europa. No mês passado, o grupo anunciou resultados sólidos para o quarto trimestre de 2008 e para o ano como um todo, mas alguns analistas duvidam que a companhia conseguirá atingir sua meta de lucro por ação de ? 2,30 em 2010 por causa da recessão. Liñares, que está há 38 anos na Telefónica, disse: "Estamos confiantes de que vamos alcançar as metas porque ainda estamos vislumbrando um grande potencial de crescimento na América Latina. Acreditamos que nossas operações nos países europeus continuarão se saindo bem, mesmo levando em conta a retração econômica."
O maior negócio da Telefónica na América Latina está no Brasil, onde a economia teve um encolhimento recorde nos últimos três meses de 2008. A queda de 3,6% no PIB do Brasil no quarto trimestre frustrou as esperanças de que a América Latina poderia escapar do pior da recessão que atinge a Europa, o Japão e os Estados Unidos.
Entretanto, Liñares disse que a operação brasileira da Telefónica até agora não foi afetada pela recessão e prevê um forte crescimento para 2009. Cerca de 22% da população brasileira ainda não possui um telefone móvel.
As operações latino-americanas da Telefónica registraram um crescimento orgânico de 12,9% em 2008 e Liñares disse: "Estamos planejando ter um crescimento de dois dígitos também para 2009."
Liñares supervisiona todas as operações da Telefónica e está liderando o esforço reforçado da companhia na geração de caixa. Ele destacou os esforços para a redução dos investimentos na Espanha em 2009, depois que as operações domésticas da companhia não cumpriram a meta de crescimento da receita para 2008.
Uma das maneiras com que a companhia pretende reduzir as despesas operacionais e de capital envolve acordos com operadoras concorrentes para o compartilhamento de infraestrutura de rede de telefonia móvel.
Por exemplo, a Telefónica e a Vodafone estão discutindo a possibilidade de dividirem a infraestrutura na República Tcheca, Alemanha, Espanha e Reino Unido, onde as duas companhias prestam serviços de telefonia móvel.
Liñares não quis comentar as discussões com a Vodafone. No entanto, um acordo no Reino Unido envolveria uma reviravolta para a subsidiária O2 da Telefónica, que anteriormente informou que o compartilhamento de redes poderia prejudicar a qualidade dos serviços prestados.
A companhia poderá conseguir mais economias de custos por meio de sua relação com a China Unicom, a segunda maior operadora de telefonia móvel da China. A Telefónica tem uma participação de 5,4% na China Unicom. Liñares disse que as duas companhias estão discutindo a possibilidade de aquisição conjunta de telefones móveis, que permitirão a elas conseguir maiores descontos junto aos fabricantes de celulares.
A Telefónica também tem uma parceria industrial com a Telecom Italia, o endividado grupo de telecomunicações italiano. O grupo espanhol tornou-se o maior acionista da Telecom Italia em 2007 porque queria impedir que a América Móvil, a operadora de telefonia móvel latino-americana controlada pelo empresário mexicano Carlos Slim, de comprar uma participação na companhia italiana. A Telefónica pagou o equivalente a ? 2,80 por ação por sua participação de 10% na Telecom Italia. Suas ações eram negociadas a ? 0,90 ontem, depois que a Telecom Italia divulgou no mês passado uma queda nas receitas e nos lucros de 2008.
Liñares manifestou apoio a Franco Bernabè, o executivo-chefe da Telecom Italia, que está tentando recuperar a companhia. "Estamos muito confortáveis com o atual plano para a companhia", disse ele. (Tradução de Mário Zamarian)