Título: Copom avalia efeitos da redução dos juros
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2009, Finanças, p. C1
A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, traça um "cenário inflacionário benigno", sinalizando que dará continuidade ao ciclo de afrouxamento da política monetária com uma "postura cautelosa". A novidade do documento é que o BC diz que, além dos riscos inflacionários e da queda muito forte da atividade econômica, a baixa de juros irá levar em conta também seus efeitos sobre o sistema financeiro, especialmente a caderneta de poupança e os fundos de pensão.
Na semana passada, o BC decidiu, por unanimidade, cortar os juros básicos da economia em 1,5 ponto percentual (pp.), de 12,75% para 11,25%, dando sequência ao ciclo de afrouxamento monetário iniciado em janeiro, quando havia patrocinado uma queda de 1 pp. Ontem, o BC divulgou a ata da reunião, que detalha as razões para intensificar a baixa da taxa de juros.
O BC diz que a crise mundial provocou o desaquecimento da demanda, com recuo do consumo, investimentos e exportações. A economia brasileira, diz o documento, passou a trabalhar com "importante margem de ociosidade dos fatores de produção", ou seja, com uma taxa de desemprego mais elevada e um nível de produção abaixo da capacidade. "Esse desenvolvimento deverá contribuir para conter as pressões inflacionárias", afirma a ata do Copom.
Na ata, o BC diz que a desvalorização do real ocorrida depois da crise financeira deverá pressionar a inflação. Além disso, diz o documento, a inflação deverá mostrar alguma resistência para cair, diante "da presença de mecanismos de retroalimentação inflacionária", como a indexação de tarifas públicas. Ainda assim, diz a ata, a desaceleração da demanda deverá ter efeito mais forte sobre os preços, contribuindo para o recuo da inflação.
Apesar do cenário relativamente benigno para a inflação, diz o Copom, a distensão monetária deve ser feita com cautela. "Mudanças na taxa básica têm efeitos sobre a a atividade e inflação que se acumulam ao longo do tempo", diz a ata, referindo-se aos impactos esperados do corte acumulado na taxa de 2,5 pp. feito até agora, que ainda não chegou totalmente à economia.
"A avaliação do Copom sobre o espaço para a flexibilização monetária adicional também leva em conta aspectos resultantes do longo período de inflação elevada, que subsistem no arcabouço institucional do sistema financeiro nacional", diz a ata. Ontem, em evento em São Paulo, o diretor de Política Monetária do BC, Mário Torós, explicou que, no trecho acima, o Copom se referia aos efeitos da baixa de juros sobre a caderneta de poupança e sobre os fundos de pensão. Ele mencionou também a indexação de tarifas, como energia elétrica e telecomunicações.
As quedas de juros estão reduzindo a remuneração das aplicações financeiras que seguem mais de perto a taxa Selic, como os títulos públicos, os CDBs e os fundos de investimentos. O risco é uma migração maciça de recursos para a caderneta de poupança, que oferece um retorno competitivo em virtude da remuneração mínima de 0,5% ao mês garantida em lei e da isenção de Imposto de Renda. No caso dos fundos de pensão, a queda da Selic deverá tornar mais difícil o cumprimento das metas de rentabilidade hoje em vigor, também em cerca de 0,5% ao mês.
Fontes do mercado também debatiam ontem se o sistema bancário conseguirá manter seus níveis de rentabilidade em um ambiente de juros baixos. Os bancos, sobretudo os públicos, carregam altos volumes de títulos em carteira, cuja remuneração está em queda.
"A regra atual da caderneta de poupança poderá se mostrar um limite para a queda de juros", disse Jankiel Santos, economista-chefe do BES Investimento. "Mas as indicações dadas pelo presidente Lula são de que o problema será resolvido rapidamente."
Em virtude do cenário benigno traçado na ata, parte dos economistas passou a prever novo corte de 1,5 pp. nos juros na próxima reunião do Copom, dias 28 e 29 de abril. Parte dos economistas, como Jankiel Santos, estão dando um peso maior à mensagem de cautela transmitida pelo BC na ata, por isso preveem corte de 1 pp.