Título: FMI critica falta de detalhes em plano dos EUA
Autor: Luce, Edward
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2009, Finanças, p. C1

Os planos da administração do presidente Barack Obama de estabilizar o sistema financeiro carecem de "detalhes essenciais" e deixaram os mercados inseguros sobre a forma como o país pretende recapitalizar o cambaleante setor bancário dos EUA, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O relatório do FMI, que está sendo publicado poucos dias antes dos planos da administração, de revelar o mecanismo do seu instrumento de recursos público-privados, que visa a remover os ativos tóxicos dos balanços patrimoniais dos bancos, se soma à pressão aplicada sobre Tim Geithner, o secretário do Tesouro, para conferir maior clareza em torno do plano de socorro.

"Detalhes críticos relativos à avaliação de ativos problemáticos permanecem obscuros", diz o relatório do FMI, que foi publicado em antecipação à cúpula do próximo mês do G-20, em Londres. "O plano tampouco aborda como a situação dos bancos insolventes ou seriamente subcapitalizados será solucionada... maior clareza em todos esses temas será essencial para assegurar a eficácia do plano".

Geithner, cuja primeira tentativa, no mês passado, de apresentar as suas diretrizes para tratar dos ativos tóxicos foi recebida criticamente pelos mercados, deverá acrescentar mais conteúdo àqueles planos na próxima semana. Na quarta-feira, o presidente Barack Obama defendeu Geithner em meio a apelos para a sua renúncia, dizendo que ele estava "tomando as iniciativas certas em meio a uma situação adversa". No seu relatório, o FMI projeta que a economia global se retrairá em 1% em 2009 - na sua primeira retração em 60 anos. O fundo, cujo próprio papel deverá ser expandido na cúpula do G-20 no próximo mês com propostas para dobrar o capital dos seus acionistas para US$ 500 bilhões, diz ser improvável que a economia global se restabeleça enquanto os governos não alcançarem um "grande e decisivo progresso" na resolução da crise financeira.

"Para romper o circuito de reação negativa, é extremamente essencial equacionar a incerteza referente aos balanços patrimoniais das instituições financeiras", disse. "Abordagens sistemáticas e construtivas começaram a tomar o lugar de intervenções ocasionais, mas as políticas do setor financeiro continuam desprovidas de coerência e credibilidade. Uma maior coordenação internacional de políticas é essencial para restaurar a confiança do mercado".

Geithner poderá sentir algum consolo com as recomendações do FMI, de usar mecanismos de mercado adequadamente para avaliar ativos problemáticos, que estão no núcleo do seu plano. O fundo recomenda com insistência, porém, que os governos considerem a nacionalização temporária de bancos falidos, opção que Geithner descartou. O FMI diz que a abordagem com o melhor desempenho envolverá três medidas: os ativos tóxicos deverão ser retirados dos balanços patrimoniais dos bancos e transferidos a uma empresa de gestão de ativos administrada pelo governo: bancos viáveis devem ser recapitalizados; instituições insolventes devem ser fechadas ou temporariamente nacionalizadas.

O relatório também censura severamente os governos por descumprirem a recomendação do FMI, de atingir um estímulo fiscal equivalente a 2% do PIB mundial agregado. Na semana passada, Lawrence Summers, principal assessor econômico de Obama, apelou para os países ao redor do mundo coordenarem as iniciativas de estímulo à demanda no encontro do G-20, em pedido recebido com pouco entusiasmo por muitos governos na Europa.

O FMI, que avalia que até agora o G-20 concedeu 1,8% em incentivos agregados, também recomendou aos governos fornecer incentivos adicionais à demanda em 2010. "Considerando a natureza provavelmente prolongada da retração, países com capacidade fiscal devem planejar manter os estímulos em 2010".