Título: Para Fernando Henrique, falta convicção a opositores
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2009, Política, p. A6

Sentado à uma mesa composta por tradicionais lideranças contrárias ao governo federal e ao PT, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez um alerta sobre a dificuldade enfrentada pela oposição em extrapolar os limites do Congresso. A plateia, composta pelos integrantes do Conselho Político e Social da Associação Comercial de São Paulo, reuniu-se ontem para ouvir palestra de FHC sobre crise mundial e política nacional. Ouviram que precisam ter "posição" e "convicção" para tornarem-se líderes e que só assim inspirarão confiança.

Ao lado do ex-presidente o ex-governador Orestes Quércia (PMDB), o ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen, o ex-vice-presidente e senador Marco Maciel (DEM-PE), o secretário estadual Guilherme Afif Domingos, o secretário municipal Alfredo Cotait Neto e o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). Entre os ouvintes , os empresários Cláudio Vaz e Juan Quirós e o cientista político Leôncio Martins Rodrigues. A todos eles, FHC afirmou que a oposição faz um esforço "imenso no Congresso", mas que os discursos estão restritos à Câmara e ao Senado e que "a conversa é tão doméstica que não transcende."

Minutos depois do seminário, Bornhausen minimizou: "Não existe crise na oposição". Mas logo emendou: "O discurso no Congresso passa por um momento difícil".

FHC ressaltou que em momentos de crise e pré-eleitorais é essencial ter opinião. "Se não tiver posição, não se inspira confiança. É preciso ter esse sentimento de convicção firme. Tem que bater. Só quem resiste é capaz de mudar", afirmou, destacando que é preciso "ser capaz de criar um símbolo" para personificar a mudança. Depois da palestra, tentou explicar como a oposição poderia ter mais sucesso: "Não tenho receita, mas tem que falar mais com o país, com a sociedade."

Desde que o PSDB foi derrotado na disputa pela Presidência, em 2006, o ex-presidente tem destacado a importância de o partido aproximar-se da sociedade. Ontem, o presidente de honra do PSDB, partido que nasceu com a missão de ficar "longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas", reiterou que há um abismo entre a sociedade e a política e que é preciso "falar de um jeito que a população entenda".

FHC não deixou de criticar o governo. "Lula não fez nada de errado em relação ao crescimento do desemprego. Mas errou ao não fortalecer as instituições, não olhar a longo prazo", afirmou. A proposta de investimento de longo prazo em obras de infraestrutura, o Programa de Aceleração do Crescimento tornou-se nas palavras de FHC o "Plano de Aceleração da Comunicação", em que a "propaganda" é o principal. Para o tucano, o governo deveria elevar investimentos privados no país.

As nomeações em estatais feitas por partidos também foram alvo de críticas do ex-presidente, que defendeu a "descupinização" da máquina pública. FHC classificou o sistema de representação brasileiro como "bambo" e disse que as deficiências desse sistema ajudam a explicar as denúncias envolvendo o Congresso.

Sobre o PSDB, pouco falou. Limitou-se a afirmar que não é contrário à realização de prévias, apesar de ver "toda hora nos jornais" que é contra. "Nunca disse isso", comentou. "É normal. Não vejo um bicho de sete cabeças nisso. Como é que se escolhe entre dois ou três?" Sua preocupação é que o processo de escolha seja aceito por aqueles que disputarem e que "que não haja manipulação". À noite, o ex-presidente participou do programa da TV Cultura, Roda Viva.