Título: Dilma admite patrocínio do PT
Autor: Foreque, Flávia
Fonte: Correio Braziliense, 10/03/2010, Política, p. 3

Eleições

Para a ministra da Casa Civil, sustento temporário do partido é necessário para bancar despesas pessoais da pré-candidata ao Planalto

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, reconheceu ontem que o Partido dos Trabalhadores pagará um salário para ela durante a campanha eleitoral rumo ao Palácio do Planalto. Como o Correio antecipou em reportagem publicada no domingo, o partido pretende bancar as despesas da pré-candidata e dar uma ajuda de custo semelhante ao valor recebido por Dilma à frente da pasta o salário atual é de cerca de R$ 10,7 mil.

Eu vou ter que viver, sou obrigada a me licenciar da minha atividade não só como ministra, mas da minha origem. Eu sou da fundação de economia e estatística e também não posso receber por lá, tenho que pedir licença. Não posso viver de brisa e não sou rica, vou ter que ter um salário do PT, resumiu. Segundo a ministra, que deixará a Casa Civil no início de abril, será a primeira vez que o partido custeará seus gastos.

Ontem, a pré-candidata do PT participou de solenidade no Senado em homenagem às mulheres e aproveitou para defender a participação feminina na política. No discurso, Dilma afirmou que as mulheres são práticas, sensatas e objetivas, características, segundo ela, fundamentais para o exercício político. A ministra ressaltou o pequeno número de mulheres no Congresso e no Executivo e afirmou que o país está pronto para eleger uma mulher como chefe de Estado. Sempre me perguntam se a mulher está preparada para ser presidente do Brasil. Eu digo a vocês: o Brasil está preparado para ter uma mulher presidente, afirmou. A ministra procurou ainda apontar diversos benefícios concedidos por programas do governo, como o Bolsa Família e o Luz para Todos, ao público feminino.

Pré-candidata do Partido Verde às eleições presidenciais, a senadora Marina Silva (AC) participou da sessão comemorativa, cumprimentou Dilma, ex-colega no PT, e também ressaltou o papel feminino na política e a chance de o país ter uma mulher, pela primeira vez, à frente do Palácio do Planalto. Isso é uma conquista das mulheres por sua luta nos últimos 100 anos, mas é também uma conquista particular da sociedade brasileira.

Tesouraria

Ontem, a ministra Dilma Rousseff afirmou ainda que as contas de sua campanha não devem ser administradas pelo tesoureiro do partido, João Vaccari Neto. Na semana passada, a revista Veja divulgou que o petista é investigado pelo Ministério Público por suposto desvio de recursos da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), presidida por ele no passado. Nós temos tido, nas últimas eleições, uma opção por diferenciar as duas tesourarias(1). A tesouraria do partido tem mais obrigações que a campanha presidencial. Então, a tendência é manter isso, declarou Dilma. A ministra, entretanto, reforçou que Vaccari tem direito de defesa frente às acusações de desvio de recursos. Em nota divulgada ontem, assinada pelo presidente do PT, José Eduardo Dutra, a legenda declarou que as denúncias contra o tesoureiro são ataques mentirosos, infundados e caluniosos.

1 - Cargo delicado Na campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o escolhido para o cargo de tesoureiro foi o então prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior à época, o secretário de Finanças do PT era Paulo Ferreira. Lula preferiu não escolher ninguém da burocracia do partido, como fez nas eleições de 2002, quando a opção foi pelo então tesoureiro do PT, Delúbio Soares. O petista foi um dos pivôs do escândalo do mensalão e é réu em processo no Supremo Tribunal Federal, acusado de corrupção ativa e formação de quadrilha.

Não posso viver de brisa e não sou rica. Vou ter que ter um salário do PT

Dilma Rousseff, pré-candidata à Presidência da República

Geddel e Patrus sob acusação

Alana Rizzo

Dois ministros do governo Lula estão na mira da Justiça Eleitoral. Pré-candidatos aos governos de Minas Gerais e Bahia, Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), e Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional, respectivamente, são acusados de propaganda eleitoral antecipada. As denúncias foram feitas aos Tribunais Regionais Eleitorais de cada estado. Pelo menos 16 ministros devem deixar o cargo para disputar as eleições. O prazo para desincompatibilização é 31 de março. Até agora, só Tarso Genro, do Ministério da Justiça, saiu do governo.

Contra a vontade do atual governador Jaques Wagner (PT) de manter a aliança com o PMDB no estado, o ministro Geddel resolveu se candidatar. E tem investido na base. Na última segunda-feira, por exemplo, cumpriu agenda na capital baiana. O TRE do estado já registra quatro representações contra o ministro, que ainda não definiu data para deixar o governo. Entre as denúncias da Procuradoria Eleitoral estão a de distribuição de adesivos com a mensagem Tô com Geddel e de um jornal do PMDB com frases como Um ministro a serviço da Bahia. Outdoors também teriam sido espalhados pela capital e pelo interior com fotos do pré-candidato e votos de felicitações. Os procuradores entenderam que, em todos os casos, está se antecipando o debate eleitoral. O MPE pede a suspensão da propaganda.

Em Minas, a juíza da 27ª Zona Eleitoral de Belo Horizonte, Mônica Libânio Rocha, determinou a retirada do ar do site: www.queropatrusgovernador. Segundo a decisão, a página da internet desrespeita a Lei nº 9.504/97, que só permite propaganda a partir de 5 de julho. O site autodenominado uma rede social criada por militantes do Partido dos Trabalhadores de Minas Gerais para discussão interna, seguindo o calendário partidário já tem mais de 893 membros. Constam informações sobre a agenda do ministro, fotos, textos publicados e grupos de discussão. Segundo o TRE-MG, uma carta precatória foi enviada à Justiça paulista para que a mesma notifique a empresa responsável pelo site. Os dois ministros foram procurados pela reportagem. Nenhum dos dois retornou as ligações.