Título: Recuperação começa pela China, diz analista
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Fonte: Valor Econômico, 18/03/2009, Especial, p. A26

O governo da China tem nas mãos a chave da recuperação da economia e da bolsa japonesas, disse Nobuyuki Saji, economista e estrategista-chefe da Mitsubishi UFJ Securities.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Japão teve no quarto trimestre de 2008 a maior contração desde 1974 e poderá encolher a um ritmo semelhante neste trimestre, se as medidas de incentivo econômico da China não aumentar a demanda pelos bens japoneses, disse Saji, que foi considerado o melhor economista do Japão em 2008 pela revista "Institutional Investor" e pelo "Nihon Keizai Shimbun".

O Índice Shanghai Composite, que monitora a maior das duas bolsas de valores da China, é o de melhor desempenho do mundo, com um ganho de 18%, e a economia do país cresceu 6,8% no trimestre passado, segundo dados compilados pela Bloomberg. A expansão foi a menor de sete anos, mas é a única entre os três maiores parceiros comerciais do Japão. Os outros dois, os Estados Unidos e a Europa, estão em recessão.

"Se a economia da China piorar e sua demanda interna permanecer baixa, o apoio às ações japonesas vai evaporar", disse Saji.

O PIB do Japão teve uma contração anualizada de 12,1% no trimestre passado, a maior entre os integrantes do Grupo dos Sete principais países industrializados.

"Não podemos ser otimistas", disse Saji. "Os dados sobre o PIB mostram que o Japão foi o país mais afetado pela economia mundial e essa vulnerabilidade mudou o ponto de vista dos investidores estrangeiros sobre as ações do Japão."

A China, o segundo maior parceiro comercial do Japão, está gastando 4 trilhões de yuans (US$ 585 bilhões) para fortalecer sua economia, a terceira maior do mundo. Se esse programa do governo vai ter sucesso poderá ficar claro já no final deste mês ou em abril, uma vez que os indícios recentes são contraditórios, disse Saji.

Mesmo que a economia da China se revitalize, o Japão pode não se beneficiar, como se beneficiou nos últimos cinco anos, disse Saji.

A participação do Japão nas importações da China caiu de 14,6% em 2006 para 13,3% em 2008, segundo o Instituto de Pesquisa Daiichi-Life.

Ontem, as bolsas de valores da Ásia subiram para o maior patamar em um mês, com bancos ampliando ganhos com expectativas de que o sistema financeiro global estaria se estabilizando, apesar de dados que mostram que a economia americana está se deteriorando.

O Barclays informou na segunda-feira que teve um forte desempenho no início deste ano, ecoando comentários positivos feitos nas últimas semanas pelo Citigroup, JPMorgan e Bank of America. Os anúncios ajudaram ações do setor financeiro, que passaram a ser um importante impulsionador dos mercados acionários.

"Ainda não podemos realmente relaxar, uma vez que não sabemos todos os detalhes dos lucros até que os resultados trimestrais sejam divulgados e ainda há muita incerteza", informou Takashi Ushio, diretor da divisão de estratégia de investimento do Marusan Securities, no Japão. "Mas parece que eles saíram do perigo pior", acrescentou.

A retomada pressionou alguns investidores que tinham apostado contra ações, forçando-os a comprar ações de volta. Mas analistas se mostram divididos sobre se o rali poderá se sustentar sem uma ampla recuperação da confiança dos investidores.

Para o Fortis Investment Management, a China e outras bolsas asiáticas emergentes são as que mais vão ganhar numa recuperação mundial de até 25%, prevista para meados deste ano, devido à expectativa de uma volta ao crescimento econômico.

"A alta deverá ser bem explosiva", disse William De Vijlder, gestor de mais de US$ 228 bilhões em todo o mundo como diretor de investimentos do Fortis Investment de Bruxelas, em entrevista por telefone. "Há muito dinheiro esperando para ser investido."

A projeção é "muito realista", em vista do interesse demonstrado com o avanço das ações na semana passada e com base nos antecedentes históricos, disse De Vijlder.