Título: Demanda por energia pode cair até 2 mil MW
Autor: Rosas , Rafael
Fonte: Valor Econômico, 25/03/2009, Brasil, p. A5

O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, acredita que a demanda por energia no país em 2009 pode cair entre 1,5 mil megawatts (MW) médios e 2 mil MW médios em relação à previsão inicial, reflexo direto da crise financeira. A expectativa de Chipp é de que a demanda fique em torno de 53,5 mil MW médios, enquanto a projeção anterior era de 55 mil MW médios.

Chipp, que participou de seminário organizado pelo Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, ressaltou que, mesmo com a queda da previsão, o movimento deverá ser de alta de 2% em relação ao consumo no ano passado. Ele disse que a partir de novembro o ONS notou uma queda na demanda tanto na comparação com o mês anterior, quanto em relação a igual período de um ano antes, movimento que começou a se inverter em fevereiro e março.

"Achamos que em fevereiro pode ter começado uma reação", disse Chipp. "As medidas tomadas pelo governo, com redução de impostos e mais facilidades para financiamento, ajudaram a reverter o quadro."

Chipp explicou que a queda da demanda em relação ao inicialmente projetado deverá levar o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) a decidir por uma folga maior para os reservatórios das hidrelétricas, nível que será implementado a partir de abril. Pela projeção anterior, os níveis mínimos dos reservatórios do Sudeste-Centro-Oeste deveriam ficar em 53% para garantir capacidade de geração caso ocorra o segundo pior período úmido da história. Agora, caso se confirme a redução de 1,5 mil a 2 mil MW médios na demanda projetada, 53% seriam suficientes para suportar a pior seca da história, enquanto, para encarar o segundo pior período úmido, o nível dos reservatórios poderia atingir 47% da capacidade.

Chipp revelou que o Ministério de Minas e Energia deve terminar ainda este ano estudo para adoção de pagamento baseado em disponibilidade e risco na exportação de energia para países vizinhos da América do Sul. Segundo Chipp, o objetivo é acabar com o atual sistema, que estipula o envio da energia durante um período do ano e a posterior devolução. "A América do Sul é um continente pobre para se dar ao luxo de só trocar energia com devolução. Se a energia é mais barata em um determinado local, deve ser enviada para outros", explicou.

"Já que não há energia suficiente para fazer contratos firmes, como acontece na Europa, devemos pelo menos comercializar no curto prazo em função da disponibilidade e do risco que vier a ser definido", acrescentou.

Chipp ressaltou que a adoção de um novo sistema de pagamento depende não apenas do estudo realizado pelo ministério, mas de acordos posteriores fechados entre os países.