Título: Inflação de serviços recua e IPCA-15 sobe só 0,11%
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 26/03/2009, Brasil, p. A8
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) de março trouxe mais boas notícias sobre a trajetória da inflação. Depois de subir 0,63% em fevereiro, o indicador teve alta de 0,11%, a menor variação registrada desde setembro de 2006. O resultado favorável teve como um dos principais destaques o grupo educação, que passou de uma elevação de 4,95% no mês anterior para uma queda de 0,43%.
Os preços de bens de consumo duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos) também ajudaram, ao registrar deflação de 0,74%. Foi o quarto tombo consecutivo das cotações desses produtos, mostrando que o repasse da desvalorização do câmbio para os preços é pouco relevante. No primeiro trimestre, o IPCA-15 subiu 1,14% e em 12 meses, 5,65%.
Para o analista Francis Kinder, da Rosenberg & Associados, o IPCA-15 de março confirmou que a inflação não é uma fonte de preocupação para o Banco Central (BC). Ele diz que a fraqueza da atividade econômica impede reajustes de preços mais salgados, como evidenciaria o grupo educação. O item ensino superior recuou 2,04% em março, depois de subir 3,82% em fevereiro. "É um sinal de que aumentos mais fortes de preços não estão sendo absorvidos pelo consumidor", afirma Kinder.
O resultado ajudou a derrubar a inflação de serviços (aluguel, condomínio, cabeleireiro, conserto de automóveis, mensalidades escolares) de 1,82% em fevereiro para 0,11% em março, a menor variação desde outubro de 2001. Além do grupo educação, Kinder destaca que os preços de aluguel e condomínio estão perdendo força. As cotações do primeiro, por exemplo, subiram 1,01% em janeiro, 0,65% em fevereiro e 0,43% em março.
Outra boa notícia é que a tendência favorável para a inflação está mais disseminada. Em março, 59,6% dos itens do IPCA-15 tiveram alta, um percentual menor que os 64,3% registrados em fevereiro. Em relatório, o Banco Fator nota que, dos nove grupos que compõem o indicador, apenas um, o de despesas pessoais, registrou aceleração em março.
O Fator também ressalta que os bens comercializáveis internacionalmente (os tradables, diretamente influenciados pelo câmbio) recuaram 0,11%, a terceira deflação seguida do grupo, "apesar da desvalorização do real ocorrida no quarto trimestre de 2008".
Para Kinder, a forte desaceleração da atividade econômica impede repasses significativos do câmbio para os preços. Alguns bens duráveis que contam com componentes importados seguiram no terreno negativo. As cotações dos carros novos recuaram 2,3% em março, aprofundando a baixa de 0,7% registrada em fevereiro.
Para o estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, o IPCA-15 de fato mostrou uma tendência favorável, mas é necessário ver os números com um pouco mais de cautela. Ele observa que o IPCA-15, que mede a inflação entre a segunda quinzena do mês anterior e a primeira do mês de referência, nem sempre é um bom previsor do IPCA do mês fechado. Além disso, Lintz diz que o comportamento de alguns bens no IPCA-15 foi diferente do registrado em outros indicadores. No Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), por exemplo, os preços de carros novos caíram 0,87% na segunda quadrissemana de março (que mostra a inflação nos 30 dias até a segunda semana do mês), um recuo menor que os 2,77% de fevereiro. "Eu não estou minimizando o resultado do IPCA-15, mas acho que ele não deve ser olhado com tanta euforia." Para Lintz, o BC poderá cortar a taxa Selic em mais 1 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a ser realizada em abril. Kinder, por sua vez, aposta num corte de 1,5 ponto.
O analista da Rosenberg acaba de revisar a sua projeção para o IPCA de 2009 de 4,5% para 3,5%. Para ele, a demanda fraca deve dificultar reajustes mais fortes até mesmo de preços administrados, como medicamentos. Além disso, o cenário para os preços de alimentos segue favorável, entre outros motivos pela recessão global,. "Isso tende a levar ao adiamento de altas decorrentes da redução dos estoques de grãos, por causa da produção agrícola mais fraca neste ano". Lintz é mais cauteloso, projetando para 2009 um IPCA de 4,5%, o centro da meta perseguida pelo BC.