Título: Inadimplência preocupa cooperativas
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2005, Agronegócios, p. B10

A estiagem que prejudica as lavouras de verão no Rio Grande do Sul também disparou o sinal de alerta nas cooperativas do Estado, que já informam contar com uma inadimplência recorde de mais de 50% nos créditos relativos ao fornecimento de assistência técnica e insumos como óleo diesel, sementes, herbicidas, fertilizantes e fungicidas aos associados. As estimativas são de que o volume total de financiamentos para pagamento na safra oscila de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão, o que, no cenário projetado, representaria rombo entre R$ 400 milhões a R$ 500 milhões para o setor devido à incapacidade de pagamento dos produtores. "Se metade do valor que foi aplicado retornar às cooperativas já será um ganho", afirma Carlos Poletto, presidente da Cotrijuí, a maior do Rio Grande do Sul, com faturamento de R$ 705 milhões em 2004. O executivo não confirma, mas a cooperativa teria R$ 40 milhões emprestados a parte dos seus 15 mil associados, três vezes seu resultado líquido anual, que tem girado em torno de 1,9% das receitas totais. O problema é que o rombo tende a aumentar na medida em que o prolongamento da seca amplie as perdas dos produtores, e por isso as cooperativas entregam hoje ao governador Germano Rigotto, na feira Expodireto, em Não-Me-Toque, um documento pedindo socorro ao setor. O mesmo pedido será encaminhado amanhã ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que visita o evento para participar do Fórum Nacional da Soja. "Temos que encontrar uma forma de renegociar", diz o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro), Rui Polidoro Pinto. As dívidas dos associados com as cooperativas não são cobertas pelo seguro agrícola e, para Polidoro, "muito mais da metade" dos créditos não será recebida. A entidade já calcula em mais de 60% a quebra na safra de soja gaúcha, o que significa uma perda de 5,6 milhões de toneladas em relação à estimativa inicial de 9,4 milhões de toneladas. No caso do milho, a Fecoagro estima encolhimento de 56%, para 2,2 milhões de toneladas. Pelos cálculos da Emater, as perdas até agora são de 35% na soja, para 5,3 milhões de toneladas, e de 55% no milho, para 2 milhões. O presidente da Cotrimaio, de Três de Maio, Antônio Wünsch, que também preside a seção gaúcha da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), defende a abertura de uma linha de financiamento oficial para cobrir os débitos dos associados com as cooperativas, que seriam avalistas das operações. Ele pede, ainda, a necessidade de prorrogação das parcelas do Programa de Revitalização das Cooperativas Agropecuárias (Recoop) e das securitizações de dívidas que vencem neste ano. No início da safra, a Cotrimaio esperava receber 3,4 milhões de sacas de soja dos seus 12 mil associados, lembra Wünsch. Agora, a projeção caiu para 600 mil. A cooperativa emprestou R$ 10 milhões para parte dos cooperados, o equivalente a 4,4% do faturamento de 2003, de R$ 227 milhões, e a quase duas vezes o resultado líquido de R$ 5,3 milhões do período. A Coopatrigo, de São Luiz Gonzaga, tem R$ 15 milhões emprestados para parte de seus 4,1 mil associados. O valor representa mais de 10% do faturamento de R$ 140 milhões de 2004 e cinco vezes o resultado líquido do período, e agora o presidente Paulo Pires teme se defrontar com uma situação de "safra zero" na região. Ele esperava receber 2,5 milhões de sacas, mas hoje não acredita em mais de 500 mil. De acordo com Pires, se o Banco do Brasil não refinanciar as dívidas dos associados com as cooperativas, elas podem deixar de operar como instrumento complementar ao sistema de crédito agrícola. Conforme o gerente de agronegócios do BB no Rio Grande do Sul, José Kochhann Sobrinho, medidas de socorro às cooperativas dependem do governo federal. Segundo ele, porém, a tendência é que qualquer iniciativa em benefício dos agricultores se estenda às cooperativas, que receberem R$ 147 milhões em financiamentos do banco na safra 2004/05. Desse montante, R$ 95 milhões correspondem a operações de custeio. Ou seja, serviram para a compra de insumos que são repassados aos associados. No total, o BB liberou R$ 3,2 bilhões para a safra no Estado, sendo R$ 2,1 bilhões para custeio.