Título: Jarbas defende Bolsa Família e deixa em aberto futuro eleitoral em 2010
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 26/03/2009, Política, p. A10
Depois de receber críticas públicas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação aos comentários que fez sobre o Bolsa Família, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) falou ontem em uma entrevista à "Rádio Jornal", emissora de Pernambuco, que é contrário ao fim do programa.
"A única coisa que eu condenei - não falei em esmola - foi o uso eleitoral do Bolsa Família", afirmou Jarbas, quando questionado pelo apresentador popular Geraldo Freire sobre o peso que as declarações do presidente poderiam ter em uma eventual candidatura dele ao Estado. "O fato de a gente condenar o uso eleitoral do Bolsa Família não quer dizer que a gente vai tirar o benefício." Ele não quis, porém, dizer se concorrerá ao governo estadual em 2010 ou não.
Segunda-feira, ao participar da inauguração de obras em Pernambuco, Lula, em uma crítica indireta a Jarbas, falou que tem gente que fala mal do Bolsa Família, que o considera uma esmola. "Eu nunca disse que o Bolsa Família era esmola", disse o senador, que considera que o presidente se "equivocou" ao usar a palavra "esmola".
Em recente entrevista à revista "Veja", sem usar a palavra "esmola", Jarbas declarou que o "Bolsa Família é o maior programa de compra de votos do mundo". Além disso, o senador afirmou que beneficiados pelas transferências de renda deixam o trabalho quando passam a receber o auxílio.
Estudos recentes sobre o impacto do Bolsa Família no mercado de trabalho, porém, indicam que a afirmação do senador não está correta. Pesquisa pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Avançadas (Ipea) e pelo Centro Internacional de Pobreza (Nações Unidas) mostrou que o Bolsa Família não tem impacto negativo sobre o incentivo ao trabalho.
Para o ano de 2004, Marcelo Medeiros, Tatiana Britto e Fabio Veras Soares observaram o efeito do programa entre mulheres e homens chefes de domicílio ou não. Eles concluíram que apenas mulheres que comandam casas tinham uma probabilidade menor de participar do mercado de trabalho. Para os outros grupos, não houve influência. Além disso, adultos que vivem em casas que recebem o Bolsa Família têm uma participação 3% maior no mercado de trabalho do que aqueles que não recebem o benefício.
Ontem, o senador Jarbas apresentou um projeto de lei para impedir indicações políticas para diretorias financeiras de estatais, garantindo que a ocupação desses cargos seja reservada a servidores de carreira. "A classe política, se tivesse bom senso, deveria ficar a quilômetros de distância de qualquer diretoria financeira", disse o senador, ao justificar o projeto.
O pemedebista argumentou que a diretoria de uma estatal tem "especial relevância e responsabilidade" e que é preciso ter vínculo à função. "Por mais competente que seja, um tecnocrata do mercado, assim como aporta na empresa, dela pode arribar sem qualquer remorso. Não possui o vínculo que, a nosso ver, é requisito para quem tenha a atribuição de gerir as finanças de uma empresa estatal."
A proposta foi apresentada pelo senador depois que ele denunciou a existência de corrupção no PMDB, em entrevista à "Veja". O senador disse que o PMDB é um partido sem bandeiras e classificou como "completo retrocesso" a escolha de José Sarney (PMDB-AP) para presidir o Senado. (Com agências noticiosas)