Título: Aperfeiçoamento técnico vai continuar, diz Meirelles
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2005, Finanças, p. C2

O Banco Central não espera impacto direto da simplificação das operações cambiais e unificação dos mercados livre e flutuante sobre a cotação do real em relação as moedas estrangeiras. Essa expectativa foi assinalada ontem pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, para completar: "Em dito isso, não fazemos previsão sobre câmbio, como nenhum BC faz". O presidente do BC indicou que o aperfeiçoamento técnico na área cambial vai continuar, acompanhando a evolução do mercado, "num processo de modernização que não acaba". Mas ele ressalvou que outras propostas em debate no Brasil, como conversibilidade do real ou fim da cobertura cambial reclamada por exportadores não fazem parte da competência do BC, porque dependem de mudança na lei. "E isso é debate do Congresso", ressaltou. Meirelles chamou a atenção para um dos pontos, ao seu ver, pouco enfatizados na avaliação do pacote cambial, que é a "completa reformulação do regulamento de exportação, com tremenda simplificação de procedimentos". O presidente do BC estima que o custo operacional do exportador e do próprio Banco Central serão "reduzidos enormemente". Nesse sentido, Meirelles diz que o pacote representa uma das microreformas mais importantes para aumentar a produtividade da economia e o crescimento potencial do país. "Um país com objetivo de ser competitivo internacionalmente e com expansão das exportações não podia mais conviver com normatização cambial de outra época", declarou. A simplificação das normas torna mais eficaz e objetivo o trabalho de fiscalização do BC e por sua vez dá segurança jurídica para as empresas, acrescentou. Ao desembarcar ontem à noite em Basiléia, Suíça, para uma reunião com alguns presidentes de Bancos Centrais, no Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), Meirelles foi indagado também se a autoridade monetária já decidiu o que fazer quando acabar o estoque de dívida pública denominada em dólar. O presidente do BC aproveitou para reiterar que justamente não há decisão sobre a continuidade ou não dos swaps invertidos após o fim dessa dívida, que analistas no mercado acreditam ocorrer dentro de algumas semanas. "Temos a meta da inflação e dois objetivos importantes no câmbio: diminuição da exposição cambial e reconstrução das reservas", limitou-se a dizer Meirelles. Ele esclareceu que o pacote anunciado na sexta-feira facilita remessa de brasileiros residentes no exterior. "Vale para as remessas que podem ser feitas pelo mercado oficial através de taxa única", exemplificou. Na prática, o presidente do BC acha que nesse terreno a racionalização e maior eficiência da estrutura normativa estão completados. "A outra questão é policial", ou seja, sobre origem do dinheiro. Em Basiléia, Meirelles evitou abordar a questão da autonomia do BC. Fontes em Brasília, por sua vez, indicam que um dos principais assessores do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, trabalha no projeto de lei. Até agora, se discutia sobre autonomia ou não. E agora os técnicos se debruçam sobre questões concretas de como isso poderia ser implementado.