Título: PIB industrial deve recuar 2,8% este ano, prevê CNI
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2009, Brasil, p. A4

O produto industrial deverá recuar 2,8% neste ano, a maior queda em quase 20 anos, de acordo com nova previsão da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A informação consta do Informe Conjuntural divulgado pela entidade com a revisão dos principais índices macroeconômicos para 2009. Das 16 projeções que tinham sido feitas em dezembro do ano passado, dez delas acabaram de receber tom mais pessimista.

Segundo Flávio Castelo Branco, economista chefe da CNI, um recuo do produto do setor não ocorria desde 2001, mas uma retração na magnitude dos 2,8% projetados, lembra a do forte impacto do Plano Collor, no início dos anos 90. O Produto Interno Bruto (PIB) do país não deve ter crescimento neste ano, segundo essa nova perspectiva da entidade, e o investimento será 4,4% menor que o do ano passado.

O consumo das famílias também deverá recuar 0,9% com relação a 2008 e o desemprego será de 9,1%, maior que os 8,2% previstos anteriormente pela CNI. A balança comercial vai acompanhar o movimento de retração da economia, com previsão do primeiro recuo das exportações em dez anos. Sem crescimento do PIB, as importações também serão menores, o que vai provocar saldo (US$ 18 bilhões) maior que o projetado em dezembro do ano passado (US$ 15 bilhões).

Castelo Branco ressaltou que foi feita uma revisão bastante drástica do cenário porque os efeitos da crise econômica mundial mostraram-se mais intensos do que em dezembro. Em resumo, disse que a atividade industrial - o setor que mais vem sofrendo - continua deprimida, persistem as dificuldades de crédito e as exportações recuaram 26% no primeiro bimestre. "No mundo globalizado não há descolamento", lamentou.

A CNI abandonou sua previsão de crescimento de 2,4% do PIB do país para adotar expansão zero em 2009, mas seu economista chefe explicou que, apesar do número, a entidade considerou em seus cálculos alguma recuperação da atividade porque o efeito carregamento do último trimestre de 2008 é de retração de 1,5%. Portanto, para o resultado ser zero, algum crescimento vai ocorrer, provavelmente no segundo semestre.

Essa previsão de crescimento que Castelo Branco prefere chamar de "moderado", para o segundo semestre, depende, na sua avaliação, dos efeitos de um conjunto de medidas e da redução dos juros. A CNI espera que, até junho, o Banco Central reduza a taxa Selic dos atuais 11,25% ao ano para 9%. Quanto à previsão de taxa de juros real de 5,2% para este ano, considerando inflação (IPCA) de 4,2%, trata-se do menor nível desde o Plano Real (1994). Na visão dele, a crise tem a marca das rápidas reações às expectativas, o que pode significar resposta mais rápida da atividade à queda de juros do que os tradicionais seis a nove meses.

De acordo com a sua interpretação, a crise mundial continua provocando muita incerteza, mas o aspecto positivo é o fato de a deterioração financeira não ter piorado. O problema, para ele, é que as expectativas estagnaram em um nível muito baixo.

A CNI reconheceu, nas suas contas, que a política econômica anticíclica terá contribuição positiva de 0,8 ponto percentual (pp) no PIB de 2009 com o consumo do governo. No lado da demanda, esse foi o único sinal positivo. Os impulsos negativos na demanda viriam do consumo das famílias (0,5 pp), do investimento (0,8 pp), das exportações (0,7 pp) e das importações (1,2 pp). Nesse caso, exportações e importações tratam de quantidades de bens e serviços.

Na ótica da oferta, as contribuições negativas para o PIB deste ano, estimadas pela CNI, seriam da agropecuária (0,1 pp) e da indústria (0,8 pp). O setor de serviços contribuiria positivamente com um ponto percentual na variação do produto.

No novo cenário econômico mais pessimista da CNI, seria descumprida a meta de superávit primário do setor público consolidado, de 3,8% do PIB, com tolerância de 0,5 ponto percentual relativo ao Projeto Piloto de Investimentos. O esforço fiscal previsto pela entidade é de 2,7%, com expectativa de queda real de 3,1% nas receitas e aumento de 7% nas despesas do governo federal. O contingenciamento recomendado é de R$ 38 bilhões, muito superior aos R$ 21,6 bilhões anunciado na semana passada.