Título: Confiança do consumidor nunca foi tão baixa
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Fonte: Valor Econômico, 27/03/2009, Brasil, p. A4

O Índice da Confiança do Consumidor (ICC), calculado pela Fundação Getulio Vargas, em queda desde agosto do ano passado, atingiu neste mês o menor patamar desde o início da série histórica, iniciada em setembro de 2005. O patamar de 94,2 pontos representa uma queda de 0,7% em relação a fevereiro e de 17,9% em relação a março do ano passado, quando a economia passava por um forte momento de expansão.

De acordo com o coordenador da FGV, Aloísio Campelo, houve estabilidade de expectativas do consumidor, mas uma piora da avaliação sobre a situação atual da economia. Isso poderia significar, segundo Campelo, que a confiança pode ter chegado ao seu ponto mais baixo e que, nos próximos meses, volte a ter uma recuperação. "Se depender da visão do consumidor brasileiro hoje, as medidas tomadas para estimular o consumo têm que ser mais fortes, porque o consumidor está insatisfeito", disse.

O coordenador da FGV ressaltou que há necessidade de melhoria da confiança para que o consumidor volte a planejar a compra de bens duráveis, índice que atingiu o patamar mais baixo da série histórica, de 1995. Aos 66,6 pontos, o indicador apresentou queda de 2,1% em relação a fevereiro. "O cenário de incertezas em relação a uma possível recuperação da economia faz com que o consumidor adie decisões de tomada de crédito para compra de bens duráveis", disse.

Para uma retomada do consumo, Campelo acredita ser necessária continuidade da queda de juros. Além disso, o consumidor precisa perceber na prática a queda da inflação, o que não vem acontecendo no início do ano, período de reajustes de matrículas escolares. O indicador mostra "um investidor cauteloso em relação a contrair novas dívidas para consumo".

O Índice da Situação Atual, aos 98,3 pontos, apresentou piora de 1,1% em relação a fevereiro. A queda na comparação com março de 2008 foi de 19,3%. O pessimismo pode ser percebido na parcela dos entrevistados que acredita que a situação atual é ruim: 52,5%. Somente 7,4% dos que responderam ao questionário veem a situação como boa. Apesar da percepção ruim do ambiente econômico, no ponto de vista da situação da família, houve melhora de percepção de 0,7% em março (103,9 pontos).

Já o Índice de Expectativas, que mede a confiança do consumidor nos próximos seis meses, manteve-se estável em março, aos 92,6 pontos. Apesar da estabilidade, este é o menor nível desde o início da série histórica. A expectativa sobre a situação da economia local voltou a apresentar melhora em março, após quedas sucessivas desde setembro passado. Este mês, o indicador subiu 1%, para 89,7%. E a situação financeira futura da família apresentou melhora de 1,6% das expectativas. Na comparação com outros países, o brasileiro só perde para o consumidor chileno, mas mostra-se mais otimista do que colombianos, europeus e argentinos. Os mais pessimistas, de acordo com a FGV, são os americanos.

No Brasil, desde o agravamento da crise, as faixas de renda que apresentaram maior queda na confiança são as duas das extremidades. Quem recebe até R$ 2,1 mil apresentou queda de 17,8% em março em relação a outubro. Os consumidores cuja renda fica acima de R$ 9,6 mil tiveram perda de confiança de 17%. Os menos pessimistas têm renda mensal entre R$ 2,1 mil e R$ 4,8 mil (- 9,2%).