Título: PT pressiona Lula a liberar Carvalho
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Fonte: Valor Econômico, 27/03/2009, Política, p. A12

A menos que o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, seja o candidato à presidência do PT, o partido se divide e passará por uma dura disputa, até novembro, que pode até afetar a relação da sigla com a candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).

Esse é o recado que a tendência Construindo um Novo Brasil (CNB) - ex-Campo Majoritário - enviou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à própria Dilma. A ministra, aliás, jantou com a executiva nacional do PT na noite de terça-feira, em sua casa, em Brasília. Lula não quer liberar Carvalho.

Na avaliação do CNB, o chefe de gabinete de Lula é hoje o único nome capaz de unir as demais tendências. "A Mensagem", corrente liderada pelo ministro Tarso Genro, pode compor, se o nome for Carvalho. O mesmo poderia ocorrer com a Articulação de Esquerda de Pedro Pomar, que, em princípio, terá candidato próprio ao cargo.

Além do presidente Ricardo Berzoini (SP), 75% da Comissão Executiva Nacional deve ser renovada em novembro - o estatuto do PT limita a dois os mandatos de seus dirigentes. O prazo para o registro das chapas e da tese está próximo: julho de 2009. A eleição é em novembro. Em março de 2010 um congresso discutirá e aprovará a tese.

Em síntese, o recado enviado Palácio do Planalto diz o seguinte: se não for Gilberto Carvalho o candidato, não haverá unanimidade - ou algo próximo disso, o que só pode ser proporcionado com a candidatura do chefe de gabinete de Lula.

Neste caso, o partido se envolverá numa grande disputa, que vai deixar o PT fragilizado para enfrentar a conjuntura do ano que vem, em particular na relação com Dilma, diferente da relação que foi com o Lula.

A relação do PT com Dilma é diferente da relação do PT com o Lula, segundo avaliações do CNB e, na realidade, é consensual no partido. A lógica por trás da candidatura amplamente majoritária é "quanto mais unido o PT estiver, mais força o partido terá junto a Dilma".

"Nós entraríamos, assim, em 2010, com uma unidade muito grande para interferir e ajudar a Dilma, inclusive na relação com os aliados", analisou ao Valor um integrante do CNB.

As opções ao nome de Gilberto Carvalho, no CNB, são o ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral), o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, que presidiu o PT na crise dos "aloprados", em 2006, e o ex-governador do Acre Jorge Viana.

Nenhum dos três, segundo avaliações internas, estaria em condições de impedir uma grande divisão em relação às eleições de novembro. Outro nome que pode surgir é o do atual secretário-geral José Eduardo Cardozo. Integrantes do CNB também raciocinam com a hipótese de que Lula pode viabilizar o nome do ex-senador e ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra.

O presidente da República, até agora, se esquivou das investidas do CNB. Reservadamente, já teria confidenciado a interlocutores que Carvalho ficará no cargo para fazer a transição do atual para o futuro governo de Dilma, caso a ministra seja eleita.

PT e Palácio do Planalto, na prática, já disputam poder num futuro e hipotético governo Dilma. O PT majoritário, por exemplo, defende a volta do ex-ministro Antonio Palocci ao governo, se o Supremo Tribunal Federal recusar a abertura de processo contra o deputado, acusado da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.

Para esses petistas, Palocci deveria ocupar o lugar da ministra Dilma, caso o julgamento do Supremo demore e mesmo que ele não saia candidato ao governo de São Paulo, como deseja Lula. Seria o PT no governo Dilma. A volta de Palocci ao governo, se ele se sair bem no STF, também é defendida por Carvalho.

A maioria dos auxiliares de Lula no Palácio do Planalto, no entanto, é contrária à volta de Palocci ao ministério, por causa do potencial que dispõe de contaminar a candidatura de Dilma a presidente da República. Esse grupo acha que ele nem deveria ser candidato em São Paulo.

Outro argumento do CNB em defesa de uma chapa de unidade à presidência do PT é que isso, se for alcançado, passa um comando para as seções estaduais do partido, que também estão conflagradas. Internamente ou em relação aos aliados do atual governo Lula da Silva.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, não é certo que Tarso Genro seja candidato sem disputa interna: o prefeito de São Leopoldo Ar Vanazzi e o deputado Pepe Vargas estão na disputa. Há inclusive setores que defende uma aliança com o atual prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, que é do PMDB, o adversário tradicional dos petistas no Sul.

Em Minas Gerais, está em curso uma disputa, que pode ser vital para a candidatura Dilma, entre o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e o ex-prefeito da capital, Belo Horizonte, Fernando Pimentel.

O ideal que o PT persegue em Minas é ter candidato próprio ao governo numa aliança com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, que é do PMDB e está em primeiro lugar nas pesquisas, e o vice-presidente José Alencar (PR). Esse seria o palanque perfeito para Dilma, mas, por enquanto, difícil de viabilizar.

Em São Paulo, se Palocci não for candidato, a disputa aponta para o ministro da Educação, Fernando Haddad, contra o prefeito de Osasco, Emídio de Souza.

No Rio de Janeiro o imperativo petista é o apoio à reeleição do governador Sérgio Cabral, tendo no mesmo palanque o senador Francisco Dornelles (PP) e o PDT do ministro Carlos Lupi. Mas a candidatura de Lindberg Farias, ex-presidente da UNE e prefeito reeleito de Nova Iguaçu, tem potencial para entusiasmar o partido.