Título: Indústria atinge teto em 2 anos, diz Fiesp
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2005, Brasil, p. A3

Em um cenário de crescimento econômico anual em torno de 4%, sem novos investimentos, o nível de utilização da capacidade instalada na indústria brasileira deve chegar ao seu limite dentro de dois anos. Pelos cálculos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o indicador chegaria a 86% de utilização. Para evitar esse gargalo, a instituição defende a redução dos custos de investimentos, por meio da queda da taxa de juros de longo prazo (TJLP) dos atuais 9,75% para algo entre 6% e 8% ao ano, porcentual mais próximo do retorno sobre o patrimônio líquido obtido pelas empresas entre 2000 e 2003. Só assim as indústrias vão se modernizar, aumentar a competitividade e ampliar a oferta de produtos, reduzindo a pressão por aumento de preços, ponderou José Ricardo Roriz, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec). Segundo calcula a Fiesp, uma redução de um ponto percentual na TJLP elevaria em aproximadamente R$ 1,1 bilhão as operações de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para o diretor, o país precisa de um choque de investimentos no curto prazo, caso contrário, "haverá falta de produtos, o que irá pressionar a inflação". "Hoje a TJLP caminha muito mais perto da Selic do que de um juro compatível ao que seria ideal para o financiamento da produção", disse Ricardo Roriz. No ano passado, para um orçamento total de R$ 47 bilhões, o BNDES liberou R$ 40 bilhões, o que equivaleu a 85% . Desse valor, a indústria ficou com cerca de R$ 16 bilhões, 2% a menos do que no ano anterior. Isso indica, segundo o diretor da Fiesp, que a TJLP no nível atual funciona como um obstáculo aos investimentos. "Tinha dinheiro no banco, mas poucos foram buscá-lo", afirmou Roriz. Ele acredita que juros baixos para o setor produtivo "não devem ser vistos pelo governo como algo inflacionário". Pelos dados da Fiesp, as taxas de financiamento nos Estados Unidos estão em 2,2% ao ano. No Canadá, são de 3,1% ; na Coréia de 2,7% e na Irlanda não passam de 0,9%. Além da TJLP a 9,75%, lembra a Fiesp, ainda é necessário considerar os spreads cobrados pelo próprio BNDES (entre 1% e 3%) na liberação dos financiamentos e também pelo agente autorizado pelo banco (entre 3% a 6%), e nesse caso, o custo do financiamento para o empresário brasileiro acaba variando entre 13,75% e 19,75% ao ano. Sobre a alternativa de financiamento das empresas através do mercado de capitais, o diretor da Fiesp acredita que isso só seria possível para as grandes indústrias brasileiras, que seriam capazes de arcar com os custos de abertura do seu capital. "E não queremos ter um país apenas de grandes empresas", disse.