Título: Paraná mira o interior para que PIB cresça 4,6% este ano
Autor: Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2005, Brasil, p. A4

Perdas na agricultura por falta de chuvas e uma parada técnica de dois meses na refinaria da Petrobras em Araucária, na grande Curitiba, prejudicaram o desempenho da economia do Paraná em 2004. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 2,6%, bem menor que os 5,2% obtidos pelo país e os 3,4% registrados pelo Estado em 2003. Para 2005, o governo espera um PIB de R$ 103,7 bilhões, ou 4,6% maior, se a queda dos preços dos produtos agrícolas e a estiagem não atrapalharem os planos. Mas o desafio dos administradores e economistas locais não é o de estimular o crescimento econômico, mas onde e como fazer isso. Em busca de incentivos fiscais e outras vantagens, como localização estratégica e mão-de-obra mais barata, 156 empresas assinaram protocolos de investimento no Paraná de 1995 a 1999, época em que grandes indústrias, como as montadoras Volkswagen e Renault, receberam atenção especial. A maior parte delas instalou-se na região metropolitana de Curitiba.

"Claro que a política de industrialização deu resultados. Mas não queremos crescer a qualquer custo", diz o secretário de Planejamento, Reinhold Stephanes. Ele explica que, se alguma grande empresa pensa agora em ir para o Paraná, encontrará incentivos do governo estadual, como o diferimento do ICMS por quatro anos e, depois, parcelamento do valor devido em mais quatro. Mas terá uma condição: ela precisará instalar-se no interior, de preferência em municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Os olhos da equipe estão voltados para a criação de emprego longe da capital. Para as que insistem em ficar próximas à sede do governo não há negociação. O interior paranaense tem demonstrado um apetite grande pelo crescimento. Vem dele a maior parte do faturamento do agronegócio, responsável por 36% da economia. "A agropecuária continua forte, principalmente porque nos últimos anos teve bom desempenho no mercado internacional, com a exportação de soja e de carne", explicou Stephanes. E segundo o governo do Estado, 70% dos 122 mil empregos criados em 2004 vieram do interior. O coordenador de mestrado da FAE Business School e presidente do Conselho Regional de Economia no Paraná, Christian Luiz da Silva, lembra que nas últimas duas décadas os governos trabalharam para criar oportunidades aos que saíam do campo em direção à grande Curitiba. Hoje a desconcentração industrial é necessária não só para resolver os problemas criados com o inchaço na vizinhança da capital, mas também para reduzir os bolsões de pobreza que existem no Interior. "Não discuto os métodos usados pelo governo e acho que é cedo para falar sobre os resultados, mas não havia outra alternativa", afirma Silva. Além de virar o foco do desenvolvimento, a administração do governador Roberto Requião tem como premissa o incentivo às pequenas empresas. Há um mês ele anunciou um pacote de medidas fiscais e ampliou a isenção de ICMS antes oferecido às empresas que possuíam receita bruta mensal de até R$ 15 mil. Agora o benefício contempla quem fatura até R$ 18 mil por mês. Quem fatura de R$ 18 mil a R$ 48 mil paga 2% pelo valor que ultrapassa o previsto para isenção e as que têm receita de até R$ 120 mil pagam 3% pelo excedente. O imposto progressivo, que possui índices estabelecidos para outras faixas, foi adotado há dois anos para reduzir a carga das pequenas e médias empresas. Segundo o secretário Stephanes, apesar de a isenção ou imposto progressivo ajudar na sobrevivência de 148 mil empresas, para o Estado o custo equivale a 2% da arrecadação. "Essa perda é compensada com o desenvolvimento que elas geram", afirma. Atualmente, as 50 maiores empresas do Estado são responsáveis por 66% do ICMS recolhido. A Repar, refinaria da Petrobras que passou por manutenção, respondeu sozinha por 22% da arrecadação do ICMS de 2004, que foi de cerca de R$ 8 bilhões. Como em todo o país, as exportações também têm recebido atenção e os resultados estão aparecendo. Em 2004, as vendas externas do Paraná atingiram US$ 9,4 bilhões, volume 31,4% superior ao obtido em 2003, e o superávit foi de US$ 5,4 bilhões, ou 46,4% maior e o equivalente a 16% do saldo do país. "O mercado externo tem sido visto como espaço estratégico para o crescimento do Estado", diz o presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures. Ele informou que, mesmo com o dólar barato, a busca por novos mercados continua, porque o empresário tem mostrado capacidade para melhorar o negócio, fazer alianças e exportar. No ano passado, a produção industrial do Paraná cresceu 10,1%, o melhor resultado em dez anos e superior ao desempenho obtido pelo país, de 8,3%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Estado ficou atrás apenas do Amazonas, São Paulo, Ceará, Santa Catarina e Pará. Já o faturamento, segundo a Fiep, cresceu 7,43% em comparação com 2003, ano em que houve queda de 12,1% nas receitas. Loures disse que cerca de 2 mil empresas exportam regularmente, mas mais da metade das receitas de vendas externas acaba no caixa de pouco mais de 20 indústrias. O perfil de exportação tem sofrido alterações, embora as commodities agrícolas ainda dominem os embarques. Em 1997, a soja e seus derivados representaram 49% das vendas externas e, no ano passado responderam por 31,2% do total. O segmento de automóveis e peças foi responsável por 17% dos embarques. O complexo florestal, que inclui madeira e papel, ficou com 11%. "O Paraná viveu diversos ciclos no passado, quando um ou dois produtos dominavam a economia, mas agora caminha para uma dinâmica diferente", afirma o economista Gilmar Mendes Lourenço, coordenador do núcleo de conjuntura do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). Indústria automobilística, agronegócio, madeira e papel e construção civil atualmente são os quatro principais eixos de desenvolvimento do Estado. O secretário Stephanes diz que tudo que cria emprego é bem-vindo ao Estado, mas mais do que atrair empresas, existe hoje a preocupação de "paranizar" a produção. "Quando você não desenvolve fornecedor, a indústria vai buscar o que precisa em outro lugar", disse Lourenço. "Como ninguém vai comprar dos paranaense por caridade, o projeto estimula a busca de competitividade e a aproximação das empresas."